O caso Prevent Senior, mistura de bolsonarismo e medicina criminosa, vai se tornando cada vez mais tenebroso.
Um dossiê feito por 15 médicos que afirmam ter trabalhado para a operadora de saúde aponta que a declaração de óbito da mãe do empresário Luciano Hang, Regina Hang, “foi fraudada”.
O relato sobre Regina está no capítulo “Da suposta fraude nas declarações de óbito” da documentação entregue à CPI.
O relator da comissão, Renan Calheiros, abordou o episódio na sessão desta quarta, 22. “Há uma farsa que será desmascarada aqui”, falou. “Vamos provar que ele pediu: ‘Escondam que minha mãe foi tratada com cloroquina, para não desmerecer a eficácia’. Ele a levou para ser tratada no hospital com cloroquina, e a Prevent Senior ocultou isso”.
Em vídeo no Instagram de 5 de fevereiro, o empresário bolsonarista relatou que a mãe estava assintomática e com “quase 95% do pulmão tomado” quando foi hospitalizada no Sancta Maggiore, da rede Prevent Senior.
De acordo com os documentos, ela deu entrada em 31 de dezembro e veio a óbito em 3 de fevereiro. No prontuário havia informação sobre o início de sintomas, em 23 de dezembro, e adoção do “tratamento precoce” com hidroxicloroquina, azitromicina e colchicina antes da chegada à Prevent Senior. Após a internação ela teria recebido ivermectina e tratamentos experimentais.
Na legenda, Hang escreveu que “até ser diagnosticada com covid-19, eu nunca dei nenhum medicamento para prevenção a minha mãe”.
“Eu me questiono: será que se eu tivesse feito o tratamento preventivo, eu não teria salvado a minha mãe?”.
Os doutores dizem que “o prontuário médico da sra. Regina Hang prova que ela utilizou o kit antes de ser internada e que repetiu o tratamento durante a internação, assim como registram que seu filho, sr Luciano Hang, tinha ciência dos fatos”.
“Como outros tantos casos de óbitos na rede Prevent Senior decorrentes da covid-19 que não foram devidamente informadas às autoridades, a declaração de óbito da sra. Regina Hang foi fraudada ao omitir o real motivo do falecimento”, relata o documento.
Em 2020, o DCM publicou uma matéria de Renan Antunes de Oliveira sobre o pai de Hang.
Luiz, apelidado “seu” Lula, se enforcou aos 79 anos em casa. O filho divulgou a farsa de que foi infarto.
Reproduzo abaixo trechos do texto de Renan — assassinado por profissionais de saúde que lhe ministraram um “kit covid”. No quinto dia, seu coração explodiu.
Com a palavra, o Renan:
Na tarde do domingo, 27 de junho de 2010, o empresário Luciano Hang recebeu um daqueles golpes capazes de tirar qualquer pessoa do eixo – saiu na varanda de sua confortável mansão no centro de Brusque e encontrou o pai, morto, enforcado, pendurado num caibro, com a língua de fora e os olhos arregalados.
De acordo com vários relatos, Luciano baixou sozinho o cadáver do pai da forca. Em seguida, deu início a um teatro para ocultar o suicídio do homem que o ensinou a viver.
Por telefone, chamou o primo Nilton, a funerária Zuchi, o gerente de marketing da Havan, empresa que se tornaria uma das maiores redes varejistas do Brasil, e o médico Rafael Saádi, único legista da cidade, nesta ordem.
Uma farsa foi então tentada para transformar o suicídio em morte natural. (…)
Primeira providência: o pessoal do marketing distribuiu um comunicado à imprensa lacrando a mentira de que o velho Lula morrera infartado.
Quando a notícia chegou às redações, um editor da rádio Cidade despachou os repórteres AD para o Instituto Médico Legal (IML) e PS pra delegacia.
AD encontrou seu Lula numa mesa metálica, com a língua horrivelmente para fora: “Dava para ver a marca da corda no pescoço”, lembra AD.
Anoitecia.
Os repórteres que, numa cidade então pequena, sempre tinham acesso à delegacia, desta vez tiveram que ficar do lado de fora – Luciano Hang estava lá dentro, respirando todo oxigênio de Santa Catarina.
É fácil entender o cuidado dos policiais em fechar as portas – ele ainda não era o Véio da Havan, mas já era um dos homens mais ricos da cidade e conhecido por seus chiliques.
Na rádio, os jornalistas lutavam contra a verdade: “Se ele disse que seu pai morreu infartado, não vi motivos para escrever outra coisa”, conta um ex-diretor.
Ele disse que a primeira versão que chegou à redação fora que Lula tinha sido assassinado: “Checamos, então preferimos contar a mentira oficial do infarte”.
Enquanto isso, na delegacia, o delegado de plantão lutava com sua consciência para recusar uma polpuda propina para produzir um atestado de óbito frio – ele passou a oferta para o médico-legista, Rafael Saádi.
O doutor Saádi, hoje um proctologista estabelecido num belo consultório no centro, também não aceitou “preencher um cheque com quantos zeros quisesse”, oferecido por Luciano para que a causa da morte fosse alterada.
O médico se recusou, alegando que se algum dia a morte fosse questionada ele seria o responsável. Bateu pé, não aceitaria “dinheiro nenhum para mentir”.
E escreveu no atestado de óbito a verdade: “insuficiência respiratória aguda, asfixia mecânica (constrição mecânica por laçada), enforcamento”.
Pelo relato de um participante da reunião, Luciano Hang não derrubou uma lágrima sequer. Primeiro, ofereceu o dinheiro. Depois, tentou levar as autoridades no grito.
Enfim, saiu da delegacia espalhando a fake news do infarte, mas com um atestado verdadeiro. Em seguida, ordenou ao agente funerário a cremação imediata do corpo, levado na mesma noite ao Crematório Vaticano, em Balneário Camboriú, a 30 km.
Ninguém fora da família – nem o gerente de marketing – participou da cerimônia final. Seu Lula virou cinzas na manhã da segunda-feira. (…)