“Não me comparem com Tábata Amaral”, diz Thaís Ferreira criticada por ter feito curso no RenovaBR

Atualizado em 22 de agosto de 2020 às 23:47
Thaís Ferreira

Publicado originalmente no ViOMundo:

Por Thaís Ferreira

Por que eu, uma mulher negra, estou sendo comparada com a Tábata Amaral nas vésperas da próxima eleição?

Quem está comparando?!

Sou uma mulher negra, mãe de três, criada em Vaz Lobo e que só teve oportunidade de acessar o conhecimento de Harvard através de sua plataforma online e gratuita.

O que tenho em comum a deputada Tábata Amaral?

Não frequentamos os mesmos lugares, nunca comemos do mesmo prato, não somos amigas.

Não moramos no mesmo bairro, não circulamos pelos mesmos rolés, e que eu saiba ela nunca fez uma rima na rua comigo.

Li com espanto notícias que circularam nos últimos dias em veículos da imprensa, aliás com textos parecidos, sempre citando fontes filiadas ao PSOL, que é o meu próprio partido (!), buscando me associar a uma pessoa que não tem nada a ver comigo. É o que?

Nós fizemos o mesmo curso durante 5 meses, e saímos iguais?

Eu recebi o conteúdo dos professores das universidades da classe média branca durante 5 meses, onde eles costumam passar anos, e me tornei uma agente infiltrada?!

Eu nunca teria apoiado a reforma da previdência, pela qual Tábata se tornou conhecida.

Sou de uma família que precisa olhar com muita atenção a maneira como se retiram poucos direitos em áreas como essa da previdência.

Porque muitos na minha família dependem da aposentadoria pelo INSS.

Assim como sou contra privatização da CEDAE, porque o peso da conta da água no orçamento dos meus é maior.

Assim como sou contra o teto de gastos e o fim dos auxílios emergenciais durante a pandemia porque sei que essas são políticas que não interessam para periferia onde eu tenho todas as minhas raízes.

A prestação de contas da minha campanha se encontra disponível para consulta pública em site do TSE.

E lá está demonstrado que eu gastei uma fração dos recursos que a maioria dos deputados estaduais eleitos pelo Rio utilizaram para mesma disputa naquele ano.

E mesmo assim eu fui bem votada.

Perdi mais tempo no transporte público que eles, tive que contratar menos gente que eles, não tive grandes marqueteiros, pesquisas e secretários, como eles, e mesmo assim, vejam só, eu apareci com chance!

Nós superamos mais dificuldades, e mesmo assim ficamos perto!

Se alguém estiver suspeitando da falta de compromisso minha e dos membros da minha campanha com os direitos sociais, o combate ao racismo e à desigualdade econômica, está mais do que convidado para trocar ideias e construir com a gente.

Se alguém estiver achando que a neoliberal a ser combatida sou eu, a que não teve os recursos, a que não contou com padrinhos, a que vem de Madureira, sejam bem vindos à devassa que já está sendo feita em minha vida por alguns moradores da orla do Rio de Janeiro nessa véspera de eleição, para identificar algo que dê argumento legítimo a uma disputa interna desleal.

Se me inscrevi no RenovaBR, e naquele ano mesmo conclui a minha ligação com esse grupo, é também porque não recebia mesada, e porque tinha contas de aluguel para pagar naquele período.

Quem está mirando em mim buscando atingir uma direita liberal, a serviço dos endinheirados, só pode ser porque fechou demais os olhos e não está enxergando bem o alvo.

Sou a reencarnação de gerações de mulheres pretas que resistiram aos estupros, aos açoites, aos linchamentos e abusos, sem abrir mão de fazer luta.

Sou batalhadora como a minha mãe e mãe dela também foram.

Desejo, sinceramente, coragem para quem ofende a minha biografia e menospreza o valor dos que me acompanham.

Sou Thaís Ferreira. Quem é que me insulta?

*Thaís teve 24.579 votos como candidata a deputada estadual no Rio de Janeiro em 2018, mas não se elegeu