Um breve ensaio existencial.
De Krakaeur, o escritor alpinista, já tinha ouvido falar. Li, dele, ‘No Ar Rarefeito’.
De ‘Alexander Supertramp’ e do filme ‘Into The Wild’, “Na Natureza Selvagem”, baseado num livro de Krakauer, não.
Soube da história do livro por acaso, num jantar familiar na casa de minha Tia Iracema. Minha prima Iara falou do filme, e sou grato a ela.
Me interessei pela história e viajei pela internet para saber mais. Li o longo artigo de Krakauer na revista ‘Outside’ que foi a base do livro que ele faria posteriormente, ouvi algumas músicas da trilha sonora, bonita e melancólica.
Fiquei, claro, tocado com a história de ‘Alex’, o jovem americano que vai em busca de seu sonho de pureza e liberdade e deixa para trás tudo que nós, convencionalmente, achamos importante.
A começar pelo dinheiro, pelas posses.
A suprema liberdade, para ele, consistia em nada ter, ou o mínimo possível. Ele se inspirou em homens que buscaram isso, o ascetismo como uma forma de libertação, como Tolstoi e Thoreau.
Sua jornada em busca da liberdade, que acaba por levá-lo às imensidões do Alasca, provoca sentimentos variados em quem toma contacto com ela.
Mas, principalmente, faz pensar.
Faz pensar na nossa própria jornada. O que queremos, com o que sonhamos, o que nos aborrece ou nos eleva. Quem somos, enfim. Nossos princípios, nossos valores.
É uma história que nos estimula a parar e pensar calmamente sobre nós mesmos e nossa busca obsessiva pelos três pontos citados por Thoreau: amor, dinheiro e fama. ‘Alex’, na verdade Chris McCandles, pode ser um espelho para cada um de nós.
Lembro o caso de um executivo que disse, com orgulho, a meu primo Juan, seu subordinado, que não fora ao enterro do avô. Ele estava se gabando, mostrando o quanto é dedicado ao trabalho. É o vendido típico, o ignorante dentro do qual grassa um incêndio sem que ele consiga perceber. Há muita gente no mundo como esse neto indecente.
E bem poucos caras como ‘Alex’.
Ninguém precisa queimar dinheiro como ele fez e se embrenhar no Alasca com escasso material, e portanto com alto risco de vida, para realizar o sonho de pureza e libertação integrais.
Podemos ficar no conforto da civilização, claro. Estudar firme, trabalhar com afinco, comemorar as promoções e aceitar as frustrações profissionais, namorar, viajar — tudo isso, no entanto, sem deixar de ir ao enterro do avô. E eis aí uma mensagem ao mesmo tempo concreta e simbólica.
A vida é muito mais do que aquelas coisas às quais damos tanto valor — e que o jovem sonhador americano entendeu que não cabiam na mochila majestosamente modesta preparada para a viagem dos seus sonhos.