O pronunciamento de Michel Temer, que ele não queria chamar de pronunciamento, foi do nada ao lugar nenhum.
Começou com o sujeito limpando a garganta e contando o número de puxa sacos presentes para vender um apoio que mingua, prosseguiu com um papo furado sobre sua honra pessoal e terminou num vale de lágrimas.
Temer está padecendo de confusão mental. A dupla menção aos soviéticos, dias atrás, já era um sinal.
O discurso trôpego confirma o diagnóstico. A certa altura, falou na questão da “dilação”, contraindo as palavras “delação” e “ilação”.
O famoso contra ataque que se anunciou nos últimos dias se revelou um traque.
No trecho mais substancioso, citou o procurador da República Marcelo Miller, próximo a Janot.
Um dos principais braços-direitos de Janot na Lava Jato até março deste ano, Miller passou a atuar no escritório que negocia com a PGR os termos da leniência do grupo JBS, que fechou acordo de delação premiada na operação.
Temer diz que Marcelo Miller ganhou milhões em poucos meses, garantindo um acordo para seu novo “patrão benevolente, que gera uma impunidade nunca antes vista.”
Inventaram a denúncia por ilação, alegou, fazendo uso de ilações.
“Criaram uma trama de novela. Digo sem medo de errar que a denúncia é uma ficção. Tentaram imputar a mim um ato criminoso e não conseguiram que não existe, jurídica ou politicamente”, complementou.
Sobre Joesley Batista, com quem trocou impressões até sobre a forma física e viajou no jatinho, mentiu: “Eu sei que criticam-me por ter recebido tarde da noite o empresário Joesley. Recebi sim, naquela oportunidade, o maior produtor de proteína animal do país.”
Temer tentou transformar a sujeira pela qual ele responde numa devassa à instituição da presidência da República.
Não colou. O show do zumbi continua. “Não sei como Deus me colocou aqui”, resumiu, numa referência carinhosa a Eduardo Cunha.