Rodrigo Janot foi preciso ao apontar a “inconveniência de serem, Justiça Eleitoral e Ministério Público Eleitoral, protagonistas —exagerados— do espetáculo da democracia, para os quais a Constituição trouxe, como atores principais, os candidatos e os eleitores”.
O comentário constou em seu parecer do arquivamento do pedido feito por Gilmar Mendes para investigar uma fornecedora da campanha de Dilma, a gráfica VTPB. “Não interessa à sociedade que as controvérsias sobre a eleição se perpetuem”, escreveu.
O pacote inconveniente do vice presidente do TSE inclui um truque de retórica — ou melhor, um vício de linguagem — revelador. É a frase “não vou emitir juízo”.
Ele a utiliza desde há muitos anos, como se vê em registros na internet, mas a aperfeiçoou. Invariavelmente, depois da advertência que ele mesmo dá segue um julgamento severo.
Em entrevista ao Correio Braziliense publicada hoje, 30 de agosto, perguntado se Dilma sabia da corrupção na Petrobras, ele fala o seguinte: “Não vou emitir juízo sobre isso”.
E na sequencia: “Agora, a mim me parece que é difícil qualquer pessoa que estava em posição de responsabilidade dizer que desconhecia essas práticas. Mas isso deve ser investigado nos devidos processos. E nós estamos falando só da Petrobras, agora recentemente começamos a falar da Eletrobras. Isso é extremamente preocupante. Agora, se ninguém sabe e ninguém viu, precisa ir ao oculista, além de outros sentidos que podem estar perdidos por aí.”
Sobre a renúncia de Dilma: “Não vou emitir juízo sobre isso. Mas as soluções estão no universo da política.”
Sobre o envolvimento de José Dirceu e Lula no “desenho da operação”: “Não vou emitir juízo sobre pessoas. Só acho que a história não chega a ser um conto infantil se for apresentada assim. Agora, estamos diante de um sistema claramente maior.”
Provavelmente é um caso inédito, no mundo, de emissões de juízo apressadas, invariavelmente vindas depois de um alerta. No mundo ideal, apareceriam as iniciais SQN depois de cada aviso de GM, como na clássica série do Batman.