A economia brasileira não estava preparada para os fortes golpes recebidos este ano. Não é que os prejuízos sejam exclusivamente nacionais. Mesmo que a irrupção do Covid-19 tenha sido mundial, as consequências da paralisação das atividades se mostraram agravadas numa região que já se apresentava com economias estruturalmente debilitadas e com pouca margem nas finanças como para desenvolver medidas sociais que permitam manter fontes de trabalho e brindar auxílio à maioria dos setores do comércio e a indústria. De fato, de acordo com a CEPAL (a Comissão Econômica para América Latina e o Caribe), só neste ano a pandemia levará 28,7 milhões de pessoas à pobreza com um aumento de 4,4% em comparação a 2019. Segundo a mencionada agência da ONU criada para coordenar o desenvolvimento regional,34,7% da população do continente viverá na pobreza no fim de 2020.
Em termos gerais, a queda do PIB no continente é de 5,3% e, mesmo que o maior aumento da pobreza extrema possa ser registrado na Nicarágua, os maiores aumentos dos índices de pobreza serão atingidos nas principais economias da região: Argentina e Brasil. Se estima que a reducao do PIB no país pode chegar a 9,2% em 2020, uma cifra histórica. No entanto o percentual de pessoas em situação de pobreza deve aumentar de 30,2% para 37,3%.
Nesse contexto, a maioria dos setores do comércio e a indústria viram como as suas expectativas de crescimento diminuíram ou até mesmo desapareceram. No caso do mercado de seguros o ano começou desalentador. Se analisados os dados estatísticos publicados em abril pela Superintendência de Seguros Privados (Susep), mesmo sem ter se refletido nessa época os efeitos do Coronavírus no lucro das seguradoras, o primeiro bimestre do ano apresentava uma diminuição nos ganhos. Já no encerramento do primeiro trimestre do ano a queda na curva foi maior. Uma das principais companhias do setor, como é a Bradesco registrou quedas de 23,4%.
Desafios para as seguradoras de carro na pandemia
Como na maioria das áreas, as projeções para o mercado de seguros de carro ficam longe de brindar certezas e tem mudado muito no decorrer dos meses. Mesmo assim desde o começo das medidas restritivas e de distanciamento social surgiram muitos obstáculos para as companhias do setor.
Em primeiro lugar o mercado de seguros apresenta vinculação direta com a venda de veículos novos, sendo o principal canal para a geração de novos clientes. Mas acontece que as previsões de compra de veículos, que para o 2020 eram altas, sofreram o impacto com a chegada do coronavírus. De fato, segundo uma pesquisa feita pela companhia LMC Automotive, o Brasil seria o país com a maior redução no número de vendas de carros, com quedas de 40% neste ano e de 15% em 2021. Poderia se esperar que o índice de vendas só voltasse aos valores pré-pandemia apenas em 2022.
Esses valores já se refletiram na carteira de seguros de automóvel que apresentou, até junho uma queda de 5,9% na arrecadação de acordo ao informe 25° Conjuntura da CNseg (Confederação Nacional das Seguradoras).
Ao mesmo tempo, a quarentena veio incrementar o interés por outros meios alternativos de transporte, principalmente as bicicletas. A flutuação deste produto nos últimos meses foi histórica: passando de uma queda do 70% nas vendas em março e abril deste ano, a um crescimento do 118% de comercialização entre junho e julho em comparação com o mesmo período do ano passado. Tudo segundo os dados publicados pela Aliança Bike (Associação Brasileira do Setor de Bicicletas). Além dos benefícios à saúde e a colaboração com o meio ambiente limitando emissão de gases poluentes, o principal motivo é óbvio: a necessidade de evitar aglomerações produzidas na utilização do transporte público e reduzir possibilidades de contágio do vírus. A incorporação de novo público no mercado de bicicletas também veio trazida pelos altos custos que supõe o mantimento de um carro.
É importante lembrar que este aumento significa novamente perdas de clientes para as seguradoras de carro, pelo menos nas apólices tradicionais.
A boa notícia para as companhias de seguros
Contudo, alguns fatores se apresentam como positivos para chegar a compensar as quedas dos primeiros meses da pandemia. Um dos fatores determinantes no lucro das seguradoras fica ligado diretamente à sinistralidades, já que quanto maior seja o número de acidentes reclamados na cobertura das apólices, maior serão os custos a ser enfrentados pelas companhias.
Nesse sentido as medidas de confinamento adotadas pelos governos estaduais provocaram fortes mudanças nas estatísticas. Assim por exemplo, só no estado de São Paulo o número de acidentes de trânsito caiu em 30% em comparação com o mesmo período do 2019, passando de 51,3 mil para 35,6 mil. Igualmente o número de mortes por causa de acidentes veiculares desceu um 22% na relação com 2019.
Quando trasladados esses dados para o setor das aseguradoras, no segundo trimestre do no, vê-se que a sinistralidade registada nas apólices de carro caiu em 15,4 pontos porcentuais. Isto significa que, com a menor circulação de veículos, as seguradoras reduziram os gastos em reparações e indenizações por motivos de acidentes com segurados envolvidos.
Esta é uma das causas que explica as melhoras percebidas no lucro líquido das maiorias das seguradoras, como é o caso da Porto Seguros que registrou uma alta de 72,4% perante o mesmo período do ano passado.
Em fim, o cenário é desafiante para as companhias do setor mas, como explicou o CEO da Area Regional Brasil da Mapfre, Fernando Pérez Pérez Serrabona, a crise produzida com a chegada do novo vírus abriu “ uma nova oportunidade de crescimento” para as seguradoras, por colocou em relevo os benefícios de ter um seguro total na pandemia e a importância da contratação de seguros diante de riscos imprevistos.
As novas portas que se abrem para o mercado incluem o crescimento dos seguros “On demand”, o fortalecimento do atendimento online com o gerenciamento de denúncias de sinistros por meios virtuais, e até o desenvolvimento de coberturas para veículos que não eram tão levados em conta anteriormente como as apólices para bicicletas.