Novos bombardeios também atingiram nesta manhã a Cidade de Gaza e Jabaliya, no norte do enclave, palco de enormes destruições nas últimas semanas. No sábado (23), 166 pessoas morreram em ataques israelenses no território palestino.
Em entrevista ao canal de TV americano Fox News, Jonathan Conricus, um porta-voz do Exército de Israel, explicou que os combates no norte “continuarão, talvez, em uma menor intensidade”. “Nos dirigimos em direção ao sul e concentramos nossas principais operações em um outro bastião do Hamas, Khan Yunis”, reiterou.
No sábado (23), o presidente americano, Joe Biden, conversou com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, a quem pediu que civis sejam protegidos. No entanto, o líder democrata reconheceu que não tratou de um cessar-fogo com o premiê.
Os Estados Unidos continuam a apoiar incondicionalmente Tel Aviv, um aliado histórico. Por outro lado, Washington vem insistindo que Israel passe a uma fase menos intensa de sua ofensiva, com operações mais concentradas no grupo Hamas.
Guerra longa
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou neste domingo que Israel “paga um preço alto na guerra”. Desde o início desta nova fase do conflito, o país contabiliza 152 soldados mortos, 14 apenas na última sexta-feira (22).
“Não temos outra escolha a não ser combater”, indicou o premiê na abertura de uma reunião do governo, garantindo que “a guerra será longa”. “Vamos lutar até o fim – até a libertação dos reféns, até a eliminação do Hamas, até que a segurança seja restaurada no norte e no sul” da Faixa de Gaza, disse Netanyahu.
O Ministério Palestino da Saúde anunciou neste domingo que as operações militares israelenses deixaram 20.424 mortos desde o início da guerra. Do lado de Israel, além das perdas no campo militar, 1.140 pessoas foram mortas em ataques do grupo Hamas em 7 de outubro.
Situação catastrófica
Segundo a ONU, a situação no enclave é catastrófica: a maior parte dos hospitais deixou de funcionar e com a escassa ajuda humanitária autorizada a entrar no território, a população é submetida a um alto risco de insegurança alimentar. Cerca de 1,9 milhão de pessoas – cerca de 85% da população do território – foi obrigada a deixar suas casas para fugir dos ataques.
É o caso do palestino Nabil Diab, que se refugiou em Deir al-Balah, no litoral, junto a milhares de pessoas obrigadas a migrar dentro da Faixa de Gaza. Em entrevista à RFI, ele contou que, antes da guerra, a cidade tinha 160 mil moradores, mas hoje abriga cerca de 800 mil pessoas.
“Por causa dos drones e bombardeios não dormimos à noite. Acordamos às 6h da manhã e passamos o dia procurando comida para tentar sobreviver. É essa a nossa vida, um sofrimento imenso”, resume.
Diab também relata que milhares de pessoas aguardam por ajudas nos centros humanitários, “tudo isso sob bombardeios”. “Faz mais de 70 dias que vemos massacres acontecer. Perdi amigos, familiares, minha casa foi destruída. Ninguém pode imaginar o que estamos vivendo. É a injustiça no sentido literal. Quero que essa guerra termine”, diz.
Ajuda humanitária insuficiente
Na sexta-feira, o Conselho de Segurança na ONU adotou uma resolução exigindo a entrega “em grande escala” e “imediata” de ajuda humanitária a Gaza. No entanto, por pressão dos Estados Unidos, o texto não menciona a necessidade de um cessar-fogo, já que Israel considera que a ofensiva é necessária para acabar com o grupo Hamas.
Apesar da adoção da resolução, a entrada de comboios humanitários no enclave não teve um aumento expressivo no sábado. Cerca de 93 caminhões puderam atravessar a passagem de Rafah, na fronteira com o Egito ontem, contra uma média de 80 por dia antes do voto no Conselho de Segurança da ONU.
Publicado originalmente na RFI