No recente debate sobre o implante cerebral desenvolvido pela Neuralink, uma das empresas de Elon Musk, o renomado neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis não economiza críticas. Em uma entrevista à Folha, ele descreve o dispositivo como “apenas fumaça”, questionando sua real contribuição e inovação para o campo.
O chip, apelidado de Telepathy, é projetado com a técnica de interface cérebro-máquina, originalmente concebida por Nicolelis. Sua finalidade é permitir o controle de dispositivos digitais, como computadores e celulares, por meio do pensamento, principalmente visando ajudar pessoas com deficiência de mobilidade.
Nicolelis, cujo grupo de pesquisa na Universidade de Duke obteve reconhecimento pelos primeiros registros bem-sucedidos do uso da tecnologia por humanos, expressa desconfiança em relação ao foco da Neuralink. Ele destaca que a maioria dos casos de paralisia pode ser tratada com interfaces não invasivas, enfatizando que a empresa está alimentando o que ele chama de “hype” e “ficção científica ruim”:
“A vasta maioria dos casos de paralisia pode ser tratada com interfaces não invasivas como nós demonstramos nos últimos dez anos; eles [a Neuralink] estão vivendo de hype e bad sci-fi [ficção científica ruim].”
Diferentemente da abordagem da Neuralink, o grupo de Nicolelis concentrou seus esforços em exoesqueletos, dispositivos destinados a melhorar a mobilidade de pessoas com paraplegia ou tetraplegia. Em 2014, um voluntário utilizando um dos equipamentos desenvolvidos pelo grupo chutou uma bola durante a abertura da Copa do Mundo no Brasil, demonstrando os avanços alcançados.
No contexto brasileiro, unidades médicas como a Rede de Reabilitação Lucy Montoro já incorporaram exoesqueletos em seus tratamentos para pessoas com paralisia, evidenciando a aplicabilidade dessas tecnologias no cenário atual.
Enquanto isso, o implante neural proposto pela Neuralink continua a ser alvo de controvérsias. Embora a empresa destaque a sofisticação de seu dispositivo, Nicolelis argumenta que a demanda de mercado por esses implantes é limitada, destacando os riscos associados à neurocirurgia, que muitos pacientes preferem evitar.
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