Nos últimos dias, os deputados bolsonaristas Ricardo Salles (Novo-SP) e Nikolas Ferreira (PL-MG) iniciaram uma “guerra fria” com críticas indiretas ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
As declarações surgiram após acordos políticos que o PL, partido de Bolsonaro, firmou com o Centrão, especialmente na eleição para a presidência da Câmara dos Deputados.
O PL declarou apoio ao deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) para suceder Arthur Lira (PP-AL), candidato que também terá o apoio do PT de Lula.
Declarações de Nikolas
Na terça-feira (5), Nikolas subiu à tribuna da Câmara e criticou a direita por “perder a essência”, mencionando a disputa pelo comando da Casa, prevista para fevereiro de 2025.
“Quando se pega a eleição à Presidência desta Casa, vejo como uma imoralidade gigantesca colocar em jogo a vida das pessoas, a anistia do dia 8, enfim, é uma imoralidade gigantesca já se fazer isso. Não tenho nada contra os candidatos. Inclusive, já conversei com vários deles, respeitosamente. O que quero dizer, direita, é que as pessoas na rua não chegam até nós para dizer: ‘Vá lá, conquiste uma vaga em tal lugar. Vá lá, conquiste uma cadeira no lugar tal’. Não, o que eu escuto é: ‘Estou orando por você. Não desista’,” afirmou Nikolas.
Nikolas ainda criticou o alinhamento político, dizendo: “Alguns querem argumentar: ‘Ah, mas Bolsonaro estava aqui sozinho, e, por isso, ele era truculento’. Mas ele, de forma truculenta e sozinho, chegou à Presidência da República. Hoje, estamos vivendo basicamente da caridade dos nossos inimigos. Isso não é algo em que acredito. E digo isso porque sei que você deputado de direita também não acredita nisso. Você tem uma essência dentro de você que diz: ‘Caramba, como deveria ser ir para cima sempre? Como deveria ser realmente lutar e não arredar o pé?’”
A vez de Salles
Salles usou a vitória de Donald Trump nas eleições dos Estados Unidos para alfinetar Bolsonaro indiretamente. “Trump é maior dos intergaláticos. É o intergalático-mor! Não se curvou, não negociou, não cedeu, não retrocedeu! Foi lá e venceu!” escreveu o ex-ministro no X.
No entanto, seguidores de Salles lembraram que Trump fez alianças com políticos menos conservadores, como Ron DeSantis, governador da Flórida, e a família Kennedy.
Trump é maior dos intergaláticos. É o intergaláctico-mor ! Não se curvou, não negociou, não cedeu, não retrocedeu ! Foi lá, e venceu !
— Ricardo Salles (@rsallesmma) November 6, 2024
A resposta de Bolsonaro
O ex-presidente, mesmo sem ser mencionado nas declarações, reagiu às críticas em uma entrevista concedida a um canal de YouTube bolsonarista na última quarta-feira (6). Nessa entrevista, ele comentou sobre os “intergalácticos” que criticam suas alianças políticas.
“Se a gente fizer uma bancada fantástica de deputados e senadores, a gente bota o Brasil no eixo. E quem tem que ditar para onde o Brasil primeiro é o povo, depois o parlamento e depois o poder Executivo. Eu reconheço o lugar do Executivo. Temos como buscar alternativas. Mas não vai ser de uma hora para outra. Isso é fácil para os intergaláticos. É tudo: ‘ah, não fez isso, não fez aquilo, não voto mais, estou fora, vamos criar um grupinho aqui. Vamos ver nossas tradições, nossas origens’,” afirmou Bolsonaro.
O ex-presidente destacou que o cenário político no Brasil está “bastante deteriorado”, mas que a recuperação está “vindo aos poucos”. Ele mencionou que há figuras de valor em outros partidos.
“Tem gente boa em outros partidos. Dificil achar dentro do PT, PCdoB, PSol. Quem tinha já saiu fora. Tem um deputado aí, não vou falar o nome dele, que foi do PCdoB, foi o relator do código florestal em 2012 e saiu do PCdoB. Não vamos atirar nele por causa disso. Um cara fantástico, em todos os aspectos, que viajou agora para Amazônia, deu um recado,” afirmou, referindo-se ao ex-deputado Aldo Rebelo, hoje filiado ao MDB.
Indiretamente, o ex-chefe do Executibvo também respondeu a Nikolas, destacando realizações de seu governo em Minas Gerais, como o incentivo à extração de lítio no Vale do Jequitinhonha e o início das obras do metrô em Belo Horizonte.
“Nós, por exemplo, botamos para frente a extração de lítio no Vale do Jequitinhonha. Não foi ninguém do estado de Minas Gerais. Fomos nós que fizemos lá atrás com ministro (Adolfo) Sachsida, das Minas e Energias. Ninguém tinha a ideia de fazer aquilo ali. Nós começamos ali o trabalho do metrô de BH. Não é metrô lá na capital da Venezuela, Caracas. Não é lá, é aqui. Nós fizemos isso. E, de vez em quando, temos autoridade do Estado: ah, nunca fez nada aqui,” disparou o ex-presidente.
Ao final, Bolsonaro pediu “paciência” aos aliados na “luta contra o sistema” e enfatizou que apenas uma “minoria” de aliados não compreende os desafios enfrentados. “É difícil lutar contra o sistema? É. Agora, a gente pede paciência aos parlamentares. A grande maioria entende o que está acontecendo. Eu falo do meu partido. Uma minoria que não consegue entender o que está acontecendo. Não dá para lutar hoje em dia dessa forma. Não dá. Cada segundo daquelas pessoas que estão presas injustamente na Papuda ou outro lugar qualquer pelo 8 de Janeiro é uma eternidade,” finalizou.