Nikolas e Salles entram em “guerra fria” contra Bolsonaro; entenda

Atualizado em 7 de novembro de 2024 às 12:13
Jair Bolsonaro, Ricardo Salles e Nikolas Ferreira. Foto: reprodução

Nos últimos dias, os deputados bolsonaristas Ricardo Salles (Novo-SP) e Nikolas Ferreira (PL-MG) iniciaram uma “guerra fria” com críticas indiretas ao ex-presidente Jair Bolsonaro.

As declarações surgiram após acordos políticos que o PL, partido de Bolsonaro, firmou com o Centrão, especialmente na eleição para a presidência da Câmara dos Deputados.

O PL declarou apoio ao deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) para suceder Arthur Lira (PP-AL), candidato que também terá o apoio do PT de Lula.

Declarações de Nikolas

Na terça-feira (5), Nikolas subiu à tribuna da Câmara e criticou a direita por “perder a essência”, mencionando a disputa pelo comando da Casa, prevista para fevereiro de 2025.

“Quando se pega a eleição à Presidência desta Casa, vejo como uma imoralidade gigantesca colocar em jogo a vida das pessoas, a anistia do dia 8, enfim, é uma imoralidade gigantesca já se fazer isso. Não tenho nada contra os candidatos. Inclusive, já conversei com vários deles, respeitosamente. O que quero dizer, direita, é que as pessoas na rua não chegam até nós para dizer: ‘Vá lá, conquiste uma vaga em tal lugar. Vá lá, conquiste uma cadeira no lugar tal’. Não, o que eu escuto é: ‘Estou orando por você. Não desista’,” afirmou Nikolas.

Nikolas ainda criticou o alinhamento político, dizendo: “Alguns querem argumentar: ‘Ah, mas Bolsonaro estava aqui sozinho, e, por isso, ele era truculento’. Mas ele, de forma truculenta e sozinho, chegou à Presidência da República. Hoje, estamos vivendo basicamente da caridade dos nossos inimigos. Isso não é algo em que acredito. E digo isso porque sei que você deputado de direita também não acredita nisso. Você tem uma essência dentro de você que diz: ‘Caramba, como deveria ser ir para cima sempre? Como deveria ser realmente lutar e não arredar o pé?’”

A vez de Salles

Salles usou a vitória de Donald Trump nas eleições dos Estados Unidos para alfinetar Bolsonaro indiretamente. “Trump é maior dos intergaláticos. É o intergalático-mor! Não se curvou, não negociou, não cedeu, não retrocedeu! Foi lá e venceu!” escreveu o ex-ministro no X.

No entanto, seguidores de Salles lembraram que Trump fez alianças com políticos menos conservadores, como Ron DeSantis, governador da Flórida, e a família Kennedy.

A resposta de Bolsonaro

O ex-presidente, mesmo sem ser mencionado nas declarações, reagiu às críticas em uma entrevista concedida a um canal de YouTube bolsonarista na última quarta-feira (6). Nessa entrevista, ele comentou sobre os “intergalácticos” que criticam suas alianças políticas.

“Se a gente fizer uma bancada fantástica de deputados e senadores, a gente bota o Brasil no eixo. E quem tem que ditar para onde o Brasil primeiro é o povo, depois o parlamento e depois o poder Executivo. Eu reconheço o lugar do Executivo. Temos como buscar alternativas. Mas não vai ser de uma hora para outra. Isso é fácil para os intergaláticos. É tudo: ‘ah, não fez isso, não fez aquilo, não voto mais, estou fora, vamos criar um grupinho aqui. Vamos ver nossas tradições, nossas origens’,” afirmou Bolsonaro.

O ex-presidente destacou que o cenário político no Brasil está “bastante deteriorado”, mas que a recuperação está “vindo aos poucos”. Ele mencionou que há figuras de valor em outros partidos.

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Jair Bolsonaro: ele rebateu as críticas de Nikolas e Salles. Foto: reprodução

“Tem gente boa em outros partidos. Dificil achar dentro do PT, PCdoB, PSol. Quem tinha já saiu fora. Tem um deputado aí, não vou falar o nome dele, que foi do PCdoB, foi o relator do código florestal em 2012 e saiu do PCdoB. Não vamos atirar nele por causa disso. Um cara fantástico, em todos os aspectos, que viajou agora para Amazônia, deu um recado,” afirmou, referindo-se ao ex-deputado Aldo Rebelo, hoje filiado ao MDB.

Indiretamente, o ex-chefe do Executibvo também respondeu a Nikolas, destacando realizações de seu governo em Minas Gerais, como o incentivo à extração de lítio no Vale do Jequitinhonha e o início das obras do metrô em Belo Horizonte.

“Nós, por exemplo, botamos para frente a extração de lítio no Vale do Jequitinhonha. Não foi ninguém do estado de Minas Gerais. Fomos nós que fizemos lá atrás com ministro (Adolfo) Sachsida, das Minas e Energias. Ninguém tinha a ideia de fazer aquilo ali. Nós começamos ali o trabalho do metrô de BH. Não é metrô lá na capital da Venezuela, Caracas. Não é lá, é aqui. Nós fizemos isso. E, de vez em quando, temos autoridade do Estado: ah, nunca fez nada aqui,” disparou o ex-presidente.

Ao final, Bolsonaro pediu “paciência” aos aliados na “luta contra o sistema” e enfatizou que apenas uma “minoria” de aliados não compreende os desafios enfrentados. “É difícil lutar contra o sistema? É. Agora, a gente pede paciência aos parlamentares. A grande maioria entende o que está acontecendo. Eu falo do meu partido. Uma minoria que não consegue entender o que está acontecendo. Não dá para lutar hoje em dia dessa forma. Não dá. Cada segundo daquelas pessoas que estão presas injustamente na Papuda ou outro lugar qualquer pelo 8 de Janeiro é uma eternidade,” finalizou.