O goleiro Bruno foi tietado por torcedores do Flamengo.
Isso mesmo que você leu.
Na última segunda-feira, dia 23, o jogador condenado pela morte Eliza Samudio foi abordado por seus fãs enquanto fazia suas compras de Natal em um shopping de Cabo frio, no Rio de Janeiro
“Queria agradecer a receptividade, carinho de todos! Me senti muito amado, querido, acolhido e muito feliz!!!”, escreveu no Instagram.
“Que Deus possa abençoar a cada pessoa que veio até mim hoje, que pediu uma foto, autógrafo, ou que simplesmente veio apertar a minha mão, me desejar sorte, me parabenizar pelo meu recomeço!”
Em outubro, Nathalí Macedo falou da admiração do brasileiro pelo assassino célebre.
Disse a Nath:
Como se jamais tivesse sido condenado por matar a mãe de seu filho e atirar o corpo aos cachorros pra não precisar pagar pensão alimentícia, ele cai novamente nas graças dos torcedores e não se fala mais nisso.
Em coletiva de imprensa, a assessoria não permitiu que o passado de Bruno – marcado por misoginia e assassinato – fosse questionado.
“Tenho certeza de que a partir do momento em que as pessoas passarem a conhecer o Bruno mais de perto, ver o ser humano que é o Bruno, tenho certeza de que pode mudar a opinião de muita gente”, disse ele.
Bem, eu passo.
Esta é, aliás, uma ideia tão perigosa quanto comum quando falamos de violência sistêmica contra a mulher: a ideia de que é possível conciliar o respeito social ao comportamento doméstico sórdido e violento.
“Ele é um bom homem, mas tem uns problemas com Maria da Penha”; “Ele bate na mulher, mas é uma boa pessoa, honesto e de família.” “Ele matou e esquartejou uma mulher, mas, lá no fundo, é um ser humano excelente”
Senta lá, Cláudia.
O corriqueiro tratamento indulgente dado a homens misóginos, agressores e assassinos, mesmo quando condenados, é violento com todas as mulheres, porque reafirma que nossas vidas não valem nada, e ceifá-las sequer abala a moral de um homem privilegiado em uma sociedade que não só naturaliza, mas festeja e congratula a misoginia.
O Brasil ultraconservador, machista e moralmente sórdido que posa para selfies com o goleiro Bruno é certamente o mesmo que culpa vítimas de estupro, naturaliza o turismo sexual e se sente representado pela família Bolsonaro.
Felizmente, entretanto, este não é o único Brasil possível: estamos vivas e atentas. E, por nossas mortas, nem um minuto de silêncio.
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