Um dos momentos mais constrangedores da “entrevista” constrangedora de Jair Bolsonaro a Luciana Gimenez (cujo programa ganhou anúncios da reforma, veja só), foi a descoberta de que não somos racistas.
“Racismo é coisa rara”, diz Jair.
“Isso não cola mais”, pontua Luciana.
“O tempo todo tentam jogar o negro contra o branco, homo contra hétero ou pai contra filho. Desculpe o linguajar de um presidente da República, mas isso já encheu o saco”, prossegue o presidente.
“É chato, mesmo”, concorda a apresentadora.
Há alguns anos, a mãe de Luciana, a atriz Vera Gimenez, protagonizou um episódio didático.
Vera respondeu a um processo por racismo na 17ª Vara Criminal do Rio.
Robson Fernandes, zelador do prédio onde ela morava, afirmou ter sido chamado de “crioulo safado”, entre outras coisas.
Robson, com um problema no punho, não conseguiu carregar as malas dela, que chegava de viagem.
“Chamei mesmo de safado, vagabundo, sacana, canalha etc. Por um acaso da vida, ele é crioulo. Mas, se eu chamei ou não ele de crioulo, aí é a minha palavra contra a dele. Pode entrar com uma ação contra mim. Quero que entre, porque agora eu é que vou entrar com uma ação contra ele”, disse Vera.
O zelador, contou a coordenadora do Disque Racismo, Rosália Lemos, não queria entrar com ação contra a atriz porque temia perder o emprego, mas foi encorajado por vizinhos, que já teriam presenciado cenas “ultrajantes como essa”.
A advogada Valesca Maia, que mora em um prédio da mesma rua, disse que ficou sabendo da discussão pela empregada e resolveu ajudar indicando o Disque Racismo. Se qualificada a discriminação e não houver acordo, a atriz poderá receber pena a até três anos de detenção ou cumprir penas alternativas.
“Ele não teve a delicadeza de me ajudar com as malas. Sequer se levantou da cadeira, ficou lá sentado. Disse que estava com dor nas costas. Como é que sou racista? Já namorei crioulo e tenho amigas negras. Ele é que é descansado e folgado. Já tenho problemas com ele há muito tempo”.