No Jornal da Globo, Ciro atacou Lula como se o estivesse defendendo

Atualizado em 18 de setembro de 2018 às 7:59

Ciro Gomes atacou Lula ontem da pior maneira possível. No Jornal da Globo, fez o ataque como quem o estivesse defendendo. Sobre as acusações de corrupção na Petrobras, disse:

“No mensalão, eu estava lá [no governo, como ministro]. De fato, ele não sabia. Eu tenho razões genuínas para acreditar que, de fato, ele falou a verdade quando disse que não sabia. No ‘petrolão’, não dá. No ‘petrolão’, simplesmente não dá porque não é que ele sabia que as pessoas estavam roubando, mas ele sabia que as pessoas estavam procurando as indicações para roubar. Isso aí, infelizmente, eu por exemplo falei pra ele várias vezes do Sérgio Machado [ex-presidente da Transpetro]”, afirmou Ciro.

Ele foi questionado sobre por que critica Haddad e o PT e poupa Lula — na verdade, poupa Lula de crítica diretas, mas o ataca de outra maneira, como fez na questão das acusações de corrupção na Petrobras:

“O Haddad e o PT estão soltos e podem reagir. O Lula está na cadeia, eu me sinto um covarde.(…) Eu gostaria muito que o Lula estivesse solto e a gente pudesse estabelecer um debate e eu refletir com ele: Meu irmão — eu sou amigo do Lula há mais de 30 anos. Eu já apoiei o Lula todos os momentos. Quem quiser inventar história inventa outra história.”

Não é assim, e os fatos provam o contrário.

Assumiu o Ministério da Fazenda de Itamar Franco em 1994, num momento crítico — Fernando Henrique Cardoso era candidato a presidente, e o então ministro, Rubens Ricúpero, caiu por falar demais numa transmissão ao vivo, que ele não sabia que estava ocorrendo.

Ciro assumiu com a missão de estancar a sangria e fortalecer a candidatura de Fernando Henrique, em oposição à de Lula.

Disputou com Lula a presidência da República em 1998 e 2002. Eram, portanto, adversários.

Foi ministro de Lula depois e deu provas de lealdade. Foi firme na defesa do governo de Dilma Rousseff, quando já não era mais ministro.

Sobre Lula e as acusações contra ele, disse, repetindo uma frase que já tinha usado pelo menos uma vez:

“Nem é satanás, como os coxinhas e os radicais de direita no Brasil querem fazer [parecer], e nem é esse deus que certa fração religiosa radicalizada do PT quer, também, transformar”.

Ciro não é amigo nem inimigo de Lula. É um candidato, com excelentes propostas e um currículo respeitável, em busca de espaço, num cenário de disputa em que se consolidam Lula/Haddad e Militares/Bolsonaro.

No livro “A Verdade Vencerá” (editora Boitempo), resultado de uma longa entrevista feita com Lula em fevereiro deste ano, o ex-presidente deu talvez a melhor definição sobre Ciro Gomes:

“Eu gosto do Ciro. Só acho que o Ciro faz parte de um grupo seleto de pessoas que sabem tanto das coisas que nem perguntam para a gente “como vai?”, porque já sabem como a gente vai. A gente não pergunta porque não sabe, a gente pergunta por humildade, para deixar os outros se sentirem bem ao responderem como vão. Então, o que eu acho? Acho que o Ciro precisaria aprender a conquistar o PT. Porque ninguém será candidato pela esquerda sem o apoio do PT. Ofender o PT e ofender o Lula é uma desnecessidade. Pode até me ofender, mas diga: “Não gosto do Lula, mas adoro o PT”. Ele não diz. Ele esculhamba com o PT.”

Juca Kfouri, um dos entrevistadores, perguntou: “Mas parece o contrário. A sensação que passa é que ele gosta do senhor e não do PT.”

E Lula respondeu: “Ah, mas ele fala mal. Ele não perde a oportunidade. Bom, é uma pena, porque eu gosto do Ciro. Acho que ele é uma figura inteligente. Inteligente até certo ponto, porque, se fosse inteligente mesmo, estaria defendendo o PT agora, se acredita mesmo que não vou ser candidato.”

No Jornal da Globo desta segunda-feira, 17 de setembro, mostrou que não perde a oportunidade de falar mal de Lula. Mas o faz como se o estivesse defendendo.