Nosso novo projeto de crowdfunding:
Considerada pelo Ministério Público Federal a maior operação contra a corrupção no Brasil, a Lava Jato já dura mais de três anos e, em um dos seus últimos balanços, registrou 1.434 procedimentos, 767 buscas e apreensões, 207 conduções coercitivas, 94 prisões preventivas, 103 prisões temporárias,155 acordos de delação premiada e 139 condenações, cujas penas ultrapassam 1400 anos de prisão.
O que era para ser um ato normal do Poder Judiciário na rotina de um país democrático se transformou em uma operação que os brasileiros acompanham como se fosse uma novela ou o Big Brother.
Num dos eventos transmitidos pela TV, o Ministério Público Federal informou que suas denúncias descrevem o pagamento de 6,4 bilhões de reais em propina e que conseguiu repatriar 756 milhões de reais.
Diante de números tão impressionantes, soa como piada que o homem apontado pelo Ministério Público Federal como chefe da quadrilha que assaltou os cofres públicos tenha recebido como propina nada além de um tríplex no balneário do Guarujá — imóvel que é comparado a três apartamentos do Minha Casa Minha Vida sobrepostos –, e a reforma de um sítio em Atibaia.
Também é estranho que, ao tomar o depoimento de Luiz Inácio Lula da Silva, o juiz Sérgio Moro, que conduz o processo, não tenha apresentado uma única mísera prova de que o apartamento do balneário pertença ao ex-presidente da República. E considere-se que já faz mais de três anos que a força tarefa existe.
Nessa novela, com roteiro construído pela mídia corporativa, Moro é apresentado como herói e Lula, vilão.
E assim que é mostrado no Jornal Nacional, em quase todas as grandes revistas, nos jornais e nos livros.
Nessa narrativa, não há lugar para o contraponto ou o ponto de vista independente.
Comparativamente, muito pouca coisa publicada se propõe a buscar a fundo respostas para perguntas como:
– Quem são de verdade as autoridades da Lava Jato tratadas como heróis?
– Como uma operação que diz combater a corrupção se tornou o alicerce de um golpe que colocou no poder políticos corruptos?
– Qual a relação da Lava Jato com o Banestado, o bilionário esquema de lavagem de dinheiro descoberto ainda no governo de Fernando Henrique Cardoso?
– Qual a relação da Lava Jato com a queda de um governo democraticamente eleito?
– Qual a relação da Lava Jato com a mudança na política de exploração do petróleo brasileiro?
– Há ingerência externa – dos Estados Unidos principalmente — na origem e desdobramento da Operação Lava Jato?
– Como a Lava Jato evoluiu para se tornar uma caçada ao ex-presidente Lula?
– Por que as instâncias superiores não frearam os abusos das autoridades de Curitiba?
– Como se dá o apoio de banqueiros e empresários à Operação Lava Jato?
– Que instituições sustentam politica e ideologicamente a força tarefa de Curitiba?
– Como se constrói uma delação premiada?
– Quais os reflexos da Lava Jato para o Direito?
– Como se deu a conexão entre a Lava Jato os grupos mais reacionários do Brasil?
– Como se construiu, na prática, a aliança entre a Lava Jato e os veículos de comunicação?
– Qual será seu legado?
— Depois da Lava Jato, será possível firmar (ou reafirmar) o pacto social, com uma população dividindo, além do território, um projeto de Nação?
Enfim, a Lava Jato desperta muitas indagações.
Mas uma certeza existe, e ela ficou evidente com o depoimento do ex-presidente Lula ao juiz Sérgio Moro: falta imparcialidade na 13ª Vara da Justiça Federal de Curitiba.
A operação Lava Jato se tornou uma disputa entre setores do Judiciário e do aparelho de Estado e as lideranças políticas mais conectadas a movimentos sociais. É só observar quem são os seguidores de Sérgio Moro e compará-los aos de Lula.
O combate à corrupção é só um pretexto.
Há densa escuridão neste processo jurídico-midiático e cabe ao jornalismo iluminar o debate.
A mídia corporativa assumiu um lado nessa contenda — que, em última análise, é uma disputa de ricos, aliados à burocracia privilegiada do Estado, contra quem faz política conectados a pobres, disputa que pode ser definida também como a direita contra a esquerda.
Assim como falta juiz para arbitrar a disputa, falta jornalismo para contar a história.
Por isso, o Diário do Centro do Mundo lançou mais este projeto de crowdfunding, que será conduzido por mim.
Mais uma vez, conto com a sua colaboração. Clique aqui.
Muito obrigado.
Joaquim de Carvalho