Ao pedir a expulsão do militante Fernando Guimarães, líder da corrente tucana Esquerda Pra Valer, após ele organizar nesta semana um encontro suprapartidário de oposição ao governo de Jair Bolsonaro, o presidente do diretório paulistano do PSDB, Fernando Alfredo, sentiu a mão pesada de João Doria.
Na terça, 21, um dia após Guimarães reunir num apartamento, em São Paulo, Fernando Haddad e Eduardo Suplicy com cardeais tucanos como José Gregori, José Aníbal, e até o vereador Daniel Annenberg, Alfredo chegou a elogiar a iniciativa numa conversa com o colega de partido.
No meio da tarde desta quarta mudou de opinião.
“O Diretório Municipal do PSDB (Partido da Social Democracia) de São Paulo informa que não compactua com a postura de Fernando Guimarães Rodrigues ao assumir sua posição pessoal como a do partido”, escreveu o dirigente em uma nota oficial encaminhada ao Estadão.
“Assim, o caso será encaminhado ao Conselho de Ética para serem tomadas as medidas cabíveis”.
O lançamento do movimento “Direitos Já, Fórum pela Democracia” reuniu, além de lideranças do PT e PSDB, políticos do PDT, PSOL e PCdoB.
Roberto Freire, presidente do Cidadania, não pode comparecer mas mandou representante – a vereadora Soninha Francine é uma atuante membro do grupo que se destina ao diálogo de forças divergentes do campo ideológico partidário na defesa da Constituição e de uma agenda civilizatória para o país.
O ex-governador Márcio França, que surrou Doria em São Paulo no segundo turno da eleição do ano passado, vencendo em 95% das zonas eleitorais, participou através do vereador Eliseu Gabriel, presidente do diretório paulistano do PSB.
O senador José Serra já se comprometeu a participar do próximo encontro, assim como o ex-governador Alberto Goldman.
Geraldo Alckmin, que no final do mês entrega a presidência do PSDB nacional a Bruno Araújo, pau mandado de Doria, é outro que sinalizou simpatia e se colocou à disposição.
“Estamos vivendo uma era de caças às bruxas”, comentou Fernando Guimarães sobre ter de se explicar no Conselho de Ética do diretório.
“O que eles estão sinalizando é que qualquer um que se filie ao PSDB está sujeito a ter não só a militância mas também a sua vida pessoal tutelada, sendo impedido inclusive de defender princípios de democracia e da Constituição”.
Ao se dobrar a Doria, submetendo-se não ao bom senso, mas ao fígado do governador, o jovem Fernando Alfredo não arruma um, mas vários problemas.
O primeiro se dá no campo da equidade.
O dirigente terá peito para encaminhar às instâncias do municipal os nomes de José Gregori, Aníbal, Daniel Annenberg, e até André Franco Montoro, que também participaram do encontro?
E com relação a José Serra, que não participou mas já mandou recado que quer falar ao grupo, a atenção dispensada será a mesma?
Tentei falar com Fernando Alfredo.
Como não atendeu a ligação, mandei um whats explicando os motivos.
A resposta veio rápida.
– Opa, ele escreveu.
Não passou disso. Daí em diante só caixa.
Fernando Alfredo chegou à presidência do PSDB paulistano por influência de Bruno Covas.
Pelo acordo, o prefeito indicaria o presidente do municipal e Doria o do diretório estadual, no caso o ex-deputado Marco Vinholi.
Até por causa da sua conhecida preguiça, sabe-se que Bruno jamais iria se meter na expulsão de um filiado só porque ele reuniu num apartamento líderes do partido com os do rival.
Noves fora, acrescentando que a primeira palavra de Fernando Alfredo foi de estímulo, só resta a alternativa de ter recebido ordens do gestor.
É ruim para ele, enquanto chefe partidário, e por extensão para o prefeito, cada vez mais refém da própria inépcia e da desmedida ambição de João Doria.
Quanto a Fernando Guimarães, cabe repetir Mário Covas quando consagrou a frase que viria marcar para sempre a história do PSDB.
– Não me venham falar em adversidade. A vida me ensinou que, diante dela, só há três atitudes possíveis: enfrentar, combater e vencer.
Nesta batalha, Fernando Guimarães está condenado a vencer, pois na sua saída certamente levará junto um bom punhado de tucanos insatisfeitos com tudo o que está aí.