No ritmo atual, 400 mil mortes chegam no fim de abril. Por Fernando Brito

Atualizado em 28 de março de 2021 às 9:47
Ação realizada na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, em memória das mais de 100 mil mortes por Covid-19 no Brasil – Mauro Pimentel / AFP

Publicado originalmente em O Tijolaço:

Não é “alarmismo”. É só aritmética e encarar os fatos sem a tentação da “esperança imotivada” que a todos nos faz “torcer” por soluções espontâneas.

Tivemos mais 3.500 mortes de ontem para hoje, o que levou a média semanal para 2.543 por dia.

Ainda que não suba mais – e vai subir, ao menos nos próximos dias – basta “manter isso aí” e teremos 397 mil mortes no último dia de abril.

400 mil mortes, portanto.

Se é alarmismo, alarmista em boa companhia, a do médico Dráuzio Varella, que escreve na Folha:

Os médicos, os sanitaristas e os epidemiologistas que alertavam para as dimensões da tragédia em gestação eram considerados alarmistas e defensores de interesses políticos escusos.
Deu no que deu: 300 mil mortos, hospitais com UTIs sem leitos para oferecer aos doentes graves, milhares de pacientes morrendo à espera de uma vaga.
O que acontecerá nas próximas semanas? Chegaremos a 400 mil mortes?

Sim, chegaremos.

É por isso que o moderadíssimo médico, não hesita em dizer que é “deprimente ver os malabarismos circenses do novo ministro da Saúde, ao justificar que ficava a critério da liberdade milenar do médico prescrever o tratamento precoce com drogas inúteis.

Como assim, ministro? Enquanto a medicina foi praticada como o senhor defende, os colegas que me antecederam receitavam sangrias e sanguessugas. Finalmente, sob pressão, o presidente convocou os três Poderes para um convescote político, com o pretexto de criar um comitê para gerir a crise sanitária. Incrível, não? Imaginar que uma equipe comandada por ele será capaz de nos tirar dessa situação é acreditar que mulher casada com padre vira mula sem cabeça.

Os “lockferiados” adotados por quem não tem coragem de adotar “lockdown” estão mostrando seus resultado nos engarrafamentos-monstro em busca das cidades de veraneio.

Dráuzio Varela diz que “só podemos contar com nós mesmos” diante de uma pandemia que “saiu de controle”.