No Roda Viva, Bolsonaro se revelou um desqualificado — ou seja, exatamente o que seus eleitores querem. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 31 de julho de 2018 às 8:24
Thaís Oyama resumiu o Roda Viva de Bolsonaro

Num dos momentos mais constrangedores de um Roda Viva constrangedor, Bernardo Mello Franco questionou Jair Bolsonaro sobre sua medíocre atividade parlamentar.

— Em 28 anos de Congresso, o senhor só apresentou 170 e poucos projetos, disse Bernardo.

— Quinheiros e poucos, corrigiu o candidato.

— Não, foram 176 projetos.

— Tudo bem, 170 e poucos, encerrou o cidadão.

JB usa a mentira tanto quanto os políticos tradicionais que critica.

Ele foi o deputado federal mais votado do Rio de Janeiro em 2014, com 464 mil votos.

Em seu sétimo mandato, Bolsonaro está na Câmara desde 1991. Quando chegou a Brasília, atendia aos interesses dos militares.

Mais recentemente, passou a incluir qualquer coisa em sua agenda, desde que renda assunto nas redes sociais entre seus seguidores de extrema direita.

Também anda se travestindo de “liberal” para ver se engana o “mercado”.

A tragédia da segurança pública no Rio de Janeiro é uma oportunidade excelente para saber: o que Jair fez pela segurança de sua terra? Quais suas propostas nesse sentido? Ao longo de mais de duas décadas, o que ele conseguiu implementar para tornar o cotidiano do carioca menos apavorante?

Resposta: nada.

Jair é um fanfarrão especializado em tagarelar e angariar apoio e eventual adoração de otários fascistoides com soluções incríveis como castração química de estupradores, pena de morte, fim das cotas e distribuição de armas para a população.

Volta e meia põe um nióbio ou um grafeno no meio. Na hora de legislar, de trabalhar, um fiasco.

Apresentou projetos de lei, de lei complementar, de decreto de legislativo e propostas de emenda à Constituição (PECs). 

Apenas dois foram aprovados: o benefício de isenção do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) para bens de informática e a autorização para o uso da chamada “pílula do câncer”, a fosfoetanolamina sintética.

A primeira emenda de sua autoria, aprovada em 2015, determina a impressão de votos das urnas eletrônicas.

Ele se defende dizendo que “tão importante quanto apresentar propostas, é rejeitá-las”.

Assim tenta vender o peixe de que acabou com o “kit gay”, material didático contra a homofobia vetado na gestão de Dilma Rousseff, em 2011.

Bolsonaro é um populista desmiolado, limítrofe e despreparado.

Como seu eleitorado é feito de gente como ele, o que o sujeito precisa é apenas repetir a retórica do “bandido bom é bandido morto” e mais algumas patacoadas sobre a ditadura.

Não é necessário que ele trabalhe em Brasília pelo estado e a cidade que o elegeram. Basta vomitar ódio e ignorância por aí.

O Bolsonaro que emergiu do Roda Viva não é de extrema direita, mas de extrema estupidez. E o brasileiro não terá um “posto Ipiranga” para recorrer.