É pouco dizer que o Nobel da Paz para dois jornalistas é um prêmio à liberdade de expressão e ao direito à informação.
É uma conclusão óbvia, mas incompleta.
O que o Nobel está dizendo é que o jornalismo de guerrilha está vivo.
É uma lição também para as esquerdas brasileiras. O Nobel premiou o jornalismo de combate e fez o que muita gente boa não faz ainda hoje: reconheceu um homem e uma mulher.
O Nobel também ensina o que é paridade.
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Já seria muito bom se o prêmio fosse para dois jornalistas das corporações internacionais. Fica melhor com a escolha de jornalistas de luta sem a proteção do poder econômico, Dimitri Muratov, do jornal russo Novaya Gazeta, e Maria Ressa, da agência digital filipina Rappler.
Ambos mexem nos monturos do poder.
São duas figuras das periferias da imprensa, que sempre existiriam.
Mas agora é diferente, porque o jornalismo enfrenta também os que duvidam do que ele faz, inclusive entre os chamados setores progressistas.
Boa parte da esquerda (e não só a primitiva) acha que o jornalismo está morto e que o importante agora é a guerra do WhatsApp e do Twitter. Para a esquerda da lacração, é preciso vencer a guerra de bugios com o Carluxo.
O Nobel acha que não, que o jornalismo que vai à guerra em busca de informação está vivo. Sem jornalismo, não há conteúdo a ser jogado nas redes.
Até as fake news vivem da distorção do que o jornalismo produz.
O Nobel da Paz está nos incentivando a afrontar o poder e os que trabalham contra o jornalismo.
E não se faz jornalismo sem valentia e sem suporte político e econômico dos que desejam sustentá-lo.
O bolsonarismo sabe que pode acabar porque enfrentou a imprensa.
Falta à esquerda acreditar que isso é possível e apoiar quem produz informação antifascista.
O mais importante recado do Nobel talvez seja este: a informação produzida à margem das corporações é o jornalismo do século 21.
Os democratas e os progressistas precisam acreditar que o Nobel está certo.