Nós não soubemos acabar. Por Fabio Hernandez

Atualizado em 2 de setembro de 2015 às 15:39

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Nós não soubemos acabar.

Nós não soubemos acabar. Isso hoje é claro para mim e, imagino, para você. Nós não soubemos acabar. Acabamos muito depois do que teria sido razoável. Acabamos não quando havia uma construção da qual nos lembrarmos e sim quando já não restava nada mais que ruínas que evocavam sofrimento e pesar numa dosagem desnecessariamente elevada. Existe um tempo para iniciar e existe um tempo para terminar. Errar no tempo para terminar é muito pior do que errar no tempo para começar. Num caso, logo compensamos as alegrias ainda não gozadas. No outro, é irreparável a dor que advém do prolongamento vão do que deveria ter sido encerrado lá atrás.

Nós não soubemos acabar.

Pôr fim a uma relação amorosa é uma arte tão desafiadora quanto tocar com graça uma flauta. A covardia nos detém muitas vezes. Outras vezes, o desfecho é adiado por uma última, ou penúltima, ou antepenúltima, lufada de esperança. E há ocasiões em que nossa ação é impedida apenas por uma inércia para a qual não encontramos e nem buscamos explicação. Sei lá. Talvez nas escolas devesse haver uma disciplina que nos ensinasse a terminar uma história de amor. Nos ensinam álgebra e geografias remotas nas escolas, mas não nos ensinam coisas básicas da vida, como identificar o final de um caso e agir.

Nós não soubemos acabar.

O fim em geral é claro, apenas a gente finge que não vê. Onde havia antes compreensão e tolerância, ergue-se a impaciência. Onde havia antes generosidade, ergue-se um rigor por vezes cruel. Onde havia antes ternura, ergue-se uma crescente grosseria. Onde havia antes disposição para dividir, ergue-se o egoísmo. O que foi amor virou desamor. Os fatos gritam. Mas as pessoas fingem não ouvi-los. Fingem muitas vezes demasiadamente além do aceitável. E então sofrem bem mais do que o necessário.

Nós não soubemos acabar.