Nós precisamos falar de gordofobia.
É um assunto incômodo e adstringente, em certo ponto, porque é difícil admitir que já fomos gordofóbicos pelo menos uma vez na vida.
Ainda que nunca tenhamos dito que “gordo só faz gordice” ou que “gordas de biquíni não se tocam”, um olhar de estranhamento para uma pessoa obesa também oprime. Sugerir que a sua amiga faça dieta porque ela não usa um jeans 38 também oprime. Dizer que está “se sentindo gorda” – quando gorda não é um sentimento, e sim um estado – também oprime e ofende as pessoas que realmente são gordas.
A gordofobia não precisa ser verbal. Mas, em muitos casos, ela é.
Foi para Preta Gil, alvo de gordofobia nas redes sociais, que rebateu as críticas ao seu biotipo na última quarta-feira:
“Existem muitas mulheres que levam em consideração o que vocês falam e acabam pagando um preço alto para se encaixar no padrão imposto pela sociedade e mídia. Tenho saúde, tenho amor e isso é o mais importante de tudo.”
Preta vence a gordofobia toda vez que se recusa a pagar com a própria felicidade por um corpo dito perfeito. Todas as vezes em que responde, tranquila, às críticas ao seu biotipo. Imagino que não seja fácil nem mesmo pra ela, que tem dinheiro, fama, uma profissão que lhe apetece e uma família que a ama.
Mas para as gordas anônimas hostilizadas todos os dias nas praias, nos clubes, nas festas e em suas próprias casas, é ainda mais difícil.
Elas que ouvem todos os dias que determinadas roupas “não foram feitas para o seu biotipo.” Que são reguladas pelos próprios familiares nos almoços de família. Que ouvem, mesmo das pessoas que amam, que jamais serão aceitas como são. Que, tantas vezes, não são aceitas no mercado de trabalho porque “não têm uma boa aparência.” Que testam dietas malucas, que se exercitam em academias lotadas de corpos ideais, que não se sentem representadas por nenhuma princesa da Disney e não se vêem em nenhuma capa de revista – como na última campanha da Calvin Klein, que contratou uma modelo manequim 40 como “plus size”.
Ninguém nasce odiando o próprio corpo. Somos condicionadas a isso por um mundo em que oprimir o outro por um padrão inatingível é engraçado, é cool, é “em nome da saúde.”
É chato falar sobre gordofobia, mas é isso que empodera todas as mulheres que não sabem que podem, sim, amar o próprio corpo. E esse é o caminho para que cada mulher fora dos padrões compreenda que a liberdade não tem a ver com estética.
E qualquer problema que você tiver com mulheres gordas resolve-se com a máxima de que o corpo do outro não nos diz respeito.
Deixem as gordas em paz.