Nossa maior derrota é a incapacidade de resistir. Por Luis Felipe Miguel

Atualizado em 5 de agosto de 2017 às 13:06

 

De um lado, o retrocesso nos direitos, cuja expressão maior é a revogação da CLT. Os efeitos do fim das proteções legais ao trabalho já se fazem sentir, condenando uma quantidade cada vez maior de pessoas a situações de extrema vulnerabilidade. O trabalho precarizado serve simultaneamente a dois objetivos: amplia a parcela da riqueza apropriada pelos capitalistas e reduz o trabalhador à luta pela sobrevivência imediata.

Do outro lado, o desmonte do Estado. Há uma ação deliberada para sucateá-lo, por meio do desinvestimento, da desvalorização de seus servidores, da redução do pessoal. O discurso vazio do “Estado inchado e ineficiente”, que troca o debate sobre os problemas reais do setor público por um punhado de slogans, é mobilizado de maneira quase indolente. Os donos do poder percebem que não precisam prestar contas a ninguém, uma vez que a discussão na sociedade está completamente sufocada.

Retrocessos nos direitos e desmonte do Estado são duas faces da mesma moeda. Afinal, é a presença de direitos – ao trabalho digno, à saúde, à educação, à moradia, ao meio ambiente preservado – que exige um aparelho estatal capaz de garanti-los.

Aqueles que nos governam não são apenas reacionários ou insensíveis às necessidades populares. São uma elite predatória, disposta a fazer uma política de terra arrasada, indiferente ao país que legam às próximas gerações.

Nunca tivemos um país justo. Estamos agora perdendo até a esperança de construí-lo.

Os derrotados somos muitos: a classe trabalhadora, as mulheres, a população negra, os povos indígenas, a juventude, as lésbicas, gays e travestis, as periferias, a intelectualidade. Em cada um desses grupos, somos vítimas das ações do governo golpista, seja por mudanças na legislação, seja pela reversão de políticas públicas, seja ainda pela crescente espiral repressiva.

Nossa maior derrota é a incapacidade de resistir. A vitória de Temer na quarta-feira é um emblema: um governante ilegítimo, reconhecidamente criminoso, rechaçado por 95% da população, tem seu mandato preservado por meio de negociações espúrias, feitas quase à luz do dia, com os parlamentares. A moeda de troca foi o que restava do futuro do Brasil. Os votos foram comprados com dinheiro desviado da educação, da saúde, da previdência, da ciência. Os votos foram comprados com desmatamento, com trabalho escravo, com impunidade. E o povo? O povo é um detalhe. O povo é uma ficção. O povo é um ente que assombrava nossa elite, mas que, agora, ela pode descartar como sendo simples superstição.

Enquanto não superarmos essa percepção, que nós também estamos aceitando, ficaremos nessa paralisia. E continuaremos a ver o Brasil se desmanchando diante de nossos olhos.

Do Facebook de Luis Felipe Miguel: