Se é verdade que o período Jair Bolsonaro na presidência já caminha para a etapa derradeira, tamanha é a balbúrdia que se instalou no país em cinco meses de governo, mais certo ainda é dizer que o primeiro pontapé no traseiro do capitão foi dado por uma baiana boa de briga, apaixonada por carnaval e corintiana fanática.
Mariana Dias, a pedagoga que deixou Salvador para morar em São Paulo e presidir a União Nacional dos Estudantes (UNE), acredita mesmo que os estudantes podem derrubar Bolsonaro, e lembra dos ‘caras pintadas’ que foram às ruas protestar contra Fernando Collor.
– Com os caras pintadas, fomos mais uma vez a vanguarda da luta democrática levando às ruas a vontade do povo. Com Bolsonaro temos conscientizado a população sobre a sua falta de projeto e das graves consequências para o futuro do país. Acredito que as pessoas estão começando a entender.
Entre viagens, reuniões, e os jogos do Corinthians na Arena, que não costuma perder nem por decreto, Marianna falou com o DCM nesta semana.
Se o feeling dela estiver afiado, melhor mesmo o capitão colocar as barbas de molho.
Marianna garante que a mobilização do dia 30 será um tsunami ainda maior que o da semana passada.
DCM – Como a UNE enxerga o governo do presidente de forma geral?
Mariana Dias – Esse governo é tudo o que não queremos para o Brasil. Um misto de conservadorismo e interesses privatistas que são capazes de tudo para vender as nossas riquezas.
Nós fazemos oposição desde as eleições porque sabíamos que não existia nenhum projeto para a educação brasileira ou mesmo para o país como um todo. E agora vemos que além da falta de projeto, existe uma deliberada tentativa de destruir tudo que conquistamos nos últimos anos.
A ideia é sucatear, desmoralizar e acabar com a universidade pública. Porque incomoda a esse governo e seus colaboradores que os filhos dos trabalhadores têm conquistando um diploma, estão fazendo doutorado e mudando a composição da universidade com negros, LGBTs e jovens da periferia lá dentro.
Mas é para isso que a UNE existe, para defender a educação pública de qualidade e lutar para um acesso cada vez maior.
DCM – O ato de 15 de maio foi maior que o esperado e de certa forma abalou o governo – tanto é assim que uma manifestação em favor de Bolsonaro está agendada para esse domingo, dia 26. A manifestação surpreendeu vocês?
MD – Esse 15 de maio foi histórico e usando o termo que Bolsonaro se referiu: foi um ‘tsunami’ da Educação.
Foi a melhor resposta que demos aos cortes que vão inviabilizar o funcionamento das universidades brasileiras. Vimos nas ruas o que já estava acontecendo nas universidades e institutos federais de todo o Brasil, estudantes, pais e comunidade acadêmica se mobilizando em massa em defesa da educação pública.
Resultado foi essa onda imensa nas ruas de todas as regiões do país. E no dia 30 de maio será maior ainda. Não recuaremos enquanto a medida não for revogada.
DCM – Acha mesmo que a mobilização dos estudantes nas ruas tem poder de reverter os cortes anunciados pelo governo?
MD – Os estudantes já mostraram que têm força e a capacidade de serem atores mobilizantes na sociedade.
A nossa pauta é legítima e a população reconhece.
Então eu acho que temos sim o poder de organizar a resistência. Além do nosso futuro é o desenvolvimento do país que está em jogo. É a recuperação da nossa economia, a nossa produção científica e a nossa soberania nacional.
DCM – Não satisfeito com os cortes, Bolsonaro publicou um decreto que retira mais autonomia das federais, desta vez na área administrativa-acadêmica impedindo os reitores de nomearem vice-reitores e diretores. Qual a sua opinião sobre isso?
MD – Desde a época das eleições sabemos que existe uma perseguição às universidades federais porque elas foram um polo de resistência ao projeto conservador que representa Bolsonaro.
Naquela época diversos comitês foram formados por estudantes, professores e trabalhadores da educação para debater projetos políticos e refletir sobre a nossa democracia.
Bolsonaro não aguenta nenhum tipo de oposição e não entende a riqueza que é a diversidade de pensamento e por isso tem feito dessas instituições de ensino o seu principal alvo. Desde a ditadura não víamos esse tipo de autoritarismo e este decreto foi um passo a mais rumo ao obscurantismo que tem rumado nosso país.
DCM – A UNE teve papel decisivo na queda do presidente Collor, com os caras pintadas. Acha que os estudantes podem repetir isso com o Bolsonaro?
MD – Com os caras pintadas fomos mais uma vez a vanguarda da luta democrática levando às ruas a vontade do povo.
Com Bolsonaro temos conscientizado a população sobre a sua falta de projeto e das graves consequências para o futuro do país.
Acredito que as pessoas estão começando a entender.
Já tem muita gente na luta, afinal mais da metade da população não votou nesse projeto privatista e estamos angariando forças. A verdade é que sempre estivemos nas ruas, e a nossa biografia tem diversos capítulos de vitória, como foi mais recentemente com a aprovação do PNE e 10% do pib para educação, o que prova que nós estudantes podemos sim mudar os rumos da nossa história.
DCM – E para além da Educação, qual a sua análise sobre o governo de Bolsonaro de forma geral?
MD – Esse governo é tudo o que não queremos para o Brasil.
Um misto de conservadorismo e interesses privatistas que são capazes de tudo para vender as nossas riquezas.
Nós fazemos oposição desde as eleições porque sabíamos que não existia nenhum projeto para a educação brasileira ou mesmo para o país como um todo.
E agora vemos que além da falta de projeto, existe uma deliberada tentativa de destruir tudo que conquistamos nos últimos anos. A ideia é sucatear, desmoralizar e acabar com a universidade pública.
Porque incomoda a esse governo e seus colaboradores que os filhos dos trabalhadores têm conquistando um diploma, estão fazendo doutorado e mudando a composição da universidade com negros, lgbts e jovens da periferia lá dentro. Mas é para isso que a UNE existe, para defender a educação pública de qualidade e lutar para um acesso cada vez maior.
DCM – O MBL, movimento de extrema-direita, anunciou que o seu próximo projeto é atuar na área estudantil, com claro propósito de concorrer com a UNE. Essa movimentação preocupa?
MD – Sempre dissemos que o MBL é livre para montar uma chapa e vir concorrer o processo eleitoral da UNE.
Na falta de coragem de disputar democraticamente eles querem abrir uma entidade paralela.
DCM – Até onde a UNE pretende ir contra as políticas para a Educação do governo de Jair Bolsonaro?
MD – Não vamos aceitar nenhum direito a menos. A educação é de longe a área mais atacada por esse governo privatista e não vamos arredar o pé das ruas até sermos ouvidos.
DCM – O ministro falou em balbúrdia nas universidades, o presidente chamou os estudantes de imbecis. Qual a sua opinião sobre essas declarações?
MD – Visivelmente Jair Bolsonaro não sabe o que é uma universidade ou mesmo como funciona.
As instituições de ensino são lugares de trabalho sério, de estudo de qualidade, que produz pesquisa e desenvolvimento para o país. Isso é fato, temos números que comprovam a qualidade de ensino.
DCM – Quais as próximas agendas da UNE, e quais os objetivos?
MD – Depois do sucesso do dia 15, estamos convocando todos os estudantes para se mobilizarem nos próximos dias, indo às ruas com suas produções acadêmicas e materiais de estudo e também convocando assembleias em todas universidades, cursos, institutos federais e escolas para organizar os atos do dia 30 de Maio.
Vamos também acumular forças para a luta contra a Reforma da Previdência que terá seu ápice na Greve Geral de todos trabalhadores no dia 14 de Junho.