“Nosso maior desafio é continuarmos vivos”, diz ativista transexual

Atualizado em 31 de janeiro de 2021 às 16:55
Joaquim relata que ser uma pessoa transmaculina nesta sociedade é estar constantemente em alerta, é como viver pela metade. – Foto: Arquivo Pessoal

Publicado originalmente no site Brasil de Fato

POR FRANCISCO BARBOSA

A data de 29 de janeiro marcou o Dia da Visibilidade Trans. A referência de luta política se depara com a realidade de 175 mulheres trans assassinadas no Brasil em 2020, segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). O índice representa um aumento de 41% em relação ao ano anterior, quando 124 pessoas trans foram mortas.

O professor e ativista nos movimentos negro e LGBTQIA+, Joaquim Ferreira, afirma que a data (29) não é de comemoração.

“Espero que um dia ainda seja, mas hoje, é um dia de luta para sermos verdadeiramente vistos. Quando falamos de visibilidade é para além de uma representatividade, queremos direitos e para isto, precisamos que o poder público enxergue e atenda as nossas demandas como quaisquer outros cidadãos”, declara.

Joaquim relata que ser uma pessoa transmaculina é estar constantemente em alerta. Para o professor, é como “viver pela metade”, não ter uma vida digna, diante das privações de direito ao próprio corpo e à vida.

“Sou punido pelo ‘crime’ de ser eu mesmo, por expressar meu gênero e a minha sexualidade. É extremamente desanimador olhar para essa sociedade e não enxergar o mínimo de acolhimento e respeito”.

Para além das dores, o ativista também explica que ser uma pessoa trans é também descobrir possibilidades de vida para além de um mundo onde tudo deve ser vigiado e punido.

Sobre transfobia, Joaquim cita, como exemplo pessoal, a falta de acolhimento das pessoas ao seu redor, onde era ativista. Ele afirma que o fato marcou bastante o início de sua transição.

“As pessoas tinham dificuldades em respeitar minha identidade e eu era o tempo todo jogado em estereótipos agressivos. E faziam da minha identidade algo banal”, lembra.

Joaquim Ferreira cita que “o Brasil não é um país acolhedor”, diante de tantos desafios encarados pelas pessoas que têm sua identidade e sexualidade fora do padrão heterocisnormativo e de uma cultura extremamente fundamentada na religiosidade cristã.

“A maior dificuldade é sermos vistos como cidadãos brasileiros. Nosso maior desafio, sem sombra de dúvidas, é continuarmos vivos em meio a tanta violência”, ressalta.

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