Marcos da Silva, de 50 anos, já foi vítima de roubo de carga 25 vezes. Em julho de 2019, no mais grave dos casos, o motorista dos Correios foi atacado por cinco criminosos enquanto entregava encomendas na zona sul de São Paulo. A informação é da Folha de S.Paulo.
Na ocasião, a vítima foi agredida com socos e chutes pelo corpo. Marcos, que relatou depender até hoje de remédios para dormir e trabalhar, afirmou que jamais teve notícias sobre a abertura de inquéritos, mesmo após registrar diversos boletins de ocorrência na Polícia Civil de São Paulo.
“Quando era na Polícia Federal, funcionava. Agora, a gente vai na Polícia Civil e eles não estão nem aí. A gente vai na Polícia Civil, e eles falam: ‘Ah, é crime federal. O nosso salário aqui é R$ 4.000. Os caras da PF ganham R$ 11 mil para ficar lá sentados’. Então, é o seguinte: não há investigação. Eles não investigam”, disse Marcos.
A maioria dos roubos de carga ocorridos no estado paulista não é investigada formalmente. Dados fornecidos pela Secretaria de Segurança Pública (SSP) revelam que, de janeiro a setembro deste ano, foram registrados 4.424 crimes deste tipo, mas apenas 494 inquéritos foram instaurados.
Há também divergências entre os números informados pela polícia, via Lei de Acesso à Informação (LAI), e os divulgados oficialmente pelo governo. A tabela enviada informa um total de 7.370 crimes de roubo de carga – 2.946 a mais do que os 4.424 divulgados.
Durante uma palestra, o delegado Bruno Guilherme de Jesus, do Procarga (Programa de Prevenção, Fiscalização e Repressão ao Furto, Roubo, Apropriação Indébita e Receptação de Cargas no Estado de SP), disse que mais de 70% dos roubos de carga são falsos registros.
Segundo o delegado, a maioria desses casos envolveria uma fraude conhecida como “chave na mão”, na qual motoristas se envolvem com criminosos para desviar cargas. O motorista entrega a chave do caminhão nas mãos dos bandidos e, depois, registra uma ocorrência dizendo-se vítima de roubo.
Entretanto, especialistas do setor indicam que o índice dos casos de “chave na mão” gira em torno de 25%.
As declarações do delegado causaram revolta nos participantes do evento, especialmente entre motoristas e associações do setor. Para o vice-presidente de segurança da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística, Roberto Mira, a fala só demonstrou a falta de conhecimento do policial na área.
Diante das divergências nos dados fornecidos, a assessoria do secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, informou que investigará por que a Polícia Civil informou dados errados por meio da Lei de Acesso.