Artisticamente, Anitta não é nada parecida com Michael Jackson. Não tem o mesmo talento musical, nem a mesma habilidade na dança, nem a mesma inventividade nas coreografias, nem o mesmo senso de liberdade nos figurinos. Michael era gênio e ela ainda vai ter que trabalhar muito para ser uma boa artista.
Mas há um aspecto pessoal que eles podem ter em comum: o vício em cirurgias plásticas.
Michael Jackson, segundo consta, fez 12 cirurgias para moldar o visual de acordo com seu gosto (não é oficial, é apenas um levantamento que o The Sun fez). Isso não inclui o tratamento para clarear a pele, que decorria de um problema de vitiligo (doença que tira a pigmentação da pele, deixando manchas).
O número que só Michael e seu cirurgião sabiam pode ser até maior, e Anitta certamente não chegou lá. Está longe, aparentemente.
Mas Anitta tem 21 anos.
Até seus 21 anos, Michael tinha feito duas cirurgias “apenas”. Duas plásticas no nariz.
Claro que a partir de então, isso se tornou uma obsessão para Michael, mas Anitta já aparenta ter traços dessa obsessão também: o nariz foi remoldado, isto é, passou por uma segunda cirurgia.
Foi exatamente isso que Michael fez. Não feliz com a primeira diminuição de seu nariz, fez uma segunda (e depois uma terceira, quarta, quinta…) para que seu nariz ficasse mais fino.
Claro que sempre pode haver fatores técnicos em cirurgias. Arrumar algum erro de uma operação anterior é relativamente comum, principalmente para quem teve desvio de septo.
Neste caso, porém, segundo ela mesma, não há nenhum fator técnico. O que há é uma enorme permissividade com o perfeccionismo visual.
Michael costumava ter vergonha de suas plásticas. Mentia sobre elas nas entrevistas e sempre diminuía o número. Jamais saiu de casa com qualquer tipo de bandagem.
Anitta não tem nenhum problema em ir a um programa dominical com um curativo no nariz.
É melhor? Sim. Em quase todos os aspectos. É uma aceitação dessa “fraqueza”, algo altamente admirável que Michael não tinha. O único perigo é que isso se torne indulgência, uma ausência total de senso crítico para com esse desejo de se moldar, e se remoldar, e se remoldar de novo. É a banalização da plástica como se fosse comer batatinha frita.
Anitta deve tentar ser como o gênio Michael Jackson. É uma grande inspiração. Mas neste aspecto específico, até pelo caminho que já foi trilhado por ele, não. Só leva a sofrimento.
Ela tem direito? Todo o direito do mundo. Inquestionável.
Mas esta não é uma discussão sobre direito. É sobre a banalização de algo que não é como andar de bicicleta. Quem assiste ao programa onde Anitta apresentou sua cara nova pode estar achando que fazer plástica é a coisa mais mundana. Não é. É uma operação, existem dezenas de riscos, centenas de casos mal sucedidos e não é que não possa ser feito – mas precisa valer a pena. É bom ter auto-crítica e auto-quiestionamento.
Junto com a discussão, o texto é, no fundo, um elogio também: Anitta já era linda com o nariz maior, o cabelo mais enrolado e a pele mais escura.
E continua bonita. Seria uma pena se chegasse ao ponto de se tornar feia. Esse ponto, se Michael nos ensinou alguma coisa em termos de comportamento, é que é difícil de notar. E pode levar a um ciclo vicioso, sempre arrumando o erro, sempre arrumando o erro e sempre arrumando o erro.