São Paulo contabilizou 496 mortes decorrentes de intervenções policiais entre janeiro e setembro de 2024, um aumento de 75% em comparação ao mesmo período do ano passado, conforme dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP). Esse crescimento marca o maior número de vítimas fatais durante operações policiais no estado desde 2020, e ocorre a apenas três meses do fim do ano.
Em 2022, ano em que o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) foi eleito, foram registradas 275 mortes em operações policiais. Esse número subiu para 384 em 2023, e agora atinge um novo pico. A Baixada Santista foi uma das regiões mais impactadas, com 109 mortes ao longo do ano, enquanto a capital paulista registrou 130 vítimas.
A SSP afirmou que os óbitos decorrem de reações de suspeitos às ações policiais e que todos os casos são “rigorosamente investigados” com a participação das corregedorias, Ministério Público e Judiciário. A pasta destacou investimentos na capacitação do efetivo e aquisição de equipamentos de menor potencial ofensivo para reduzir a letalidade.
As estatísticas indicam um viés racial significativo: 64% das vítimas fatais eram negras. Até setembro, 317 pessoas pardas ou pretas foram mortas em intervenções policiais, em comparação com 154 brancas.
Segundo o pesquisador Dennis Pacheco, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a falta de punição para policiais envolvidos em casos de violência pode incentivar a continuidade dessas ações. Ele observa que, em São Paulo e no Rio de Janeiro, cerca de 90% dos casos de mortes em intervenções policiais são arquivados.
Rafael Rocha, coordenador de projetos do Instituto Sou da Paz, comenta que o atual governo contratou câmeras para monitoramento das operações, mas aponta uma “erosão” nos mecanismos de supervisão, resultando em um retrocesso na mitigação da letalidade policial.
A política de segurança pública, focada em operações contra o crime, também reflete no aumento das mortes de policiais em serviço: foram 12 até setembro, contra nove no ano anterior. Em setembro, policiais foram alvos de ataques armados no Guarujá, área de forte atuação do PCC.
Para Pacheco, os dados reforçam um “viés seletivo e racista” nas intervenções policiais. O Censo 2022 do IBGE mostra que 41% da população de São Paulo se declara parda ou preta, enquanto 58% é branca. Ele observa que o racismo estrutural afeta a forma como negros lidam com sua imagem e percebem a violência, trazendo impactos psicológicos e sociais.
A SSP reafirmou seu compromisso com a redução da violência por meio de políticas e treinamentos, enquanto especialistas defendem maior supervisão e investimento em políticas preventivas para proteger cidadãos e agentes da segurança pública.
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