Dia 29 de maio será a primeira manifestação de massas organizada contra o nefasto governo de Jair Bolsonaro. É um momento extremamente importante para aglutinar forças, organizar a classe trabalhadora e o campo progressista e enfrentar o fascismo.
O que todos sabem, mesmo que nada saibam, é que não há organização da classe trabalhadora desde os governos petistas. Houve manifestações contra o impeachment da presidenta Dilma, mas não foram suficientes para barrar o Golpe de 2016. E, desde então, as classes dominantes tomaram completamente o poder e suas frações disputam o poder internamente.
A última manifestação de massas contra as políticas das classes dominantes foi a paralisação geral em 28 de abril de 2017. De lá para cá, só houve acúmulo de derrotas da classe trabalhadora e destruição da chamada Constituição cidadã.
Talvez a única vitória tenha sido o julgamento do STF que considerou o ex-juiz Sergio Moro parcial e, assim, restituiu os direitos políticos do presidente Lula. Mas esta vitória foi dentro da institucionalidade e em função de um rearranjo interno das classes dominantes, no sentido de o Poder Judiciário reestabelecer sua hierarquia interna.
As políticas de Bolsonaro e Paulo Guedes, fantoches do partido militar e das frações das classes dominantes, avançam com força no desmonte do Estado, com privatizações, desregulações, o desmonte completo. Se Bolsonaro é o bode na sala, comendo os livros e defecando no chão, Paulo Guedes e seu bando são os piratas que vendem os eletrodomésticos e os móveis.
O circo montado por Bolsonaro conta com aberrações que constantemente deixam enfurecidos e descompassados quem tem o mínimo de discernimento sobre a realidade. As Damares, os Ernesto, os Weintraubs, os Salles et caterva, operam uma destruição por dentro das instituições. Cumprem a missão dada de “acabar com tudo isso que tá aí”. E os oposicionistas acabam inebriados no meio de tanta fumaça tóxica.
Com a pandemia de covid, a miséria, que a política econômica neoliberal iniciada na “Ponte para o Futuro” e aprofundada pelo governo Bolsonaro, só aumenta. Fome, desemprego, peste e morte. Uma parcela pequena da sociedade pode migrar para o home office e consegue se sustentar trabalhando em casa. Já a parcela que é obrigada a sair de casa, que não tem escolha, segue se amontoando no transporte público e servindo ao primeiro grupo. Enquanto isso, a classe dominante e os abastados viajam para os EUA para tomar vacina da Moderna ou da Pfizer.
Voltamos a ser o país da fome – enquanto exporta-se alimentos. O índice de reajuste do aluguel passa dos 37% e muitos são despejados, passando a morar na rua. O desemprego amarga na boca de quase 15% da população, mais os 6% de desalentados. A desindustrialização, o desaparecimento de empregos e a falta de perspectiva toma conta do povo. Aos jovens, com a destruição das universidades e falta de incentivo à pesquisa, resta se tornarem influencers e produtores de conteúdo para redes sociais – como outrora foi ser jogador de futebol e modelo. Diariamente, morrem mais de 2 mil pessoas pela peste, como fruto de uma política de governo.
Se no horizonte algum contorno parece animador com os indicadores positivos de Lula e a CPI da Pandemia, não se deve ter ilusões. Vimos e vivemos as consequências do que foram os acordos pelo alto e a falta de povo organizado em governos passados. E 2022 não será 2002. O cenário é completamente diferente e o Estado oferecerá condições também muito diferentes.
Quanto à CPI, já se delineia o caráter de espetáculo que assume. Os senadores a todo momento se referindo à audiência, a imprensa chamando de BBB da CPI e as redes sociais chamando de CPIpalooza. Se antes as coisas eram “pra inglês ver”, hoje são expressões pós-modernas de “atores” que buscam o “protagonismo” para fazer validar suas “narrativas” e assim granjear likes e obter dividendos políticos ou econômicos que explicam o jogo institucional. Não se trata de luta pelo interesse nacional.
O 29M vem como expressão de organizações partidárias e movimentos populares que estão organizados e atuantes durante toda a pandemia. Apesar de minoritários, conseguiram, neste momento, reunir outras forças políticas tanto pelas suas ações como pelo esgotamento dos setores progressistas diante do caos diário.
Trata-se de uma mobilização que pretende mostrar força e ação, não apenas resistência, mas que a classe trabalhadora não está morta. Será um gesto para mostrar que a rua não é dos terraplanistas vestidos com camisetas amarelas. É um ação intermediária, fruto de organização e que servirá para mais organização política. Para levantar o moral dos abatidos e mostrar que há gente que não aceita mais a tragédia social e quer outro projeto para o país. E isso só possível pelas ruas, pois a institucionalidade se mostra, há anos, insuficiente.
Exemplos não nos faltam. Tailândia, Myanmar, Bolívia, Haiti, Paraguai, Chile, Peru, Colômbia. Se a praga da covid se alastra pelo mundo e os governos se aproveitam para recrudescer a exploração, os povos estão se levantando e reconquistando espaço. É nas ruas que se combate o fascismo, não é no voto.
Chegou o momento de trocar a palavra resistência por enfrentamento. Trocar o mote pós-moderno “se fere minha existência, serei resistência” pela luta de classes e assim unir a todos e exigir: Vacina no braço, comida no prato, emprego para todos e fora Bolsonaro-Mourão!