O abandono é o destino de Silveira, mesmo se preservar o mandato. Por Moisés Mendes

Atualizado em 22 de fevereiro de 2021 às 8:04
Jair Bolsonaro e Daniel Silveira

Publicado originalmente no Blog do autor:

Por Moisés Mendes

O deputado Daniel Silveira cometeu um erro que, se levado a sério, poderia comprometê-lo como figura de destaque da extrema direita e com mandato popular.

No dia em que a Câmara decidia se ele deveria ou não continuar preso, o fascista usou um argumento que, se funcionasse, poderia salvá-lo. Alegou que agiu sob forte emoção quando agrediu ministros do Supremo e que por isso pedia desculpas.

Essa tática poderia evitar o pior, em outras circunstâncias, mas o deixaria mal com a turma. Só que a tentativa de se proteger em delicadezas não foi suficiente para livrá-lo da decisão dos colegas de referendar a deliberação do Supremo.

Se fosse na Europa e em outros países onde grupos radicais também adotam postura semelhante, Silveira estaria condenado a não ser mais nada.

Deve ser estranho, para extremistas europeus, ver um colega brasileiro quase chorar ao vivo e pedir o perdão dos ministros que ele atacou sistematicamente.

Se a lógica da militância de gente com o perfil de Silveira é determinada pela radicalidade e a violência, como de um momento para outro, para salvar o mandato, o sujeito se transforma em um moderado emotivo?

Os fascistas que têm Deus acima de tudo e que o levaram a atacar os ministros deveriam expulsá-lo das facções bolsonaristas mais violentas. O deputado deixou de ser um deles.

Silveira acovardou-se na hora da verdade e traiu o contingente da extrema direita que diz representar.

Mesmo assim, mereceu, no dia seguinte, uma nota do Clube Militar pelos serviços prestados na defesa do general Eduardo Villas Bôas.

Os militares de pijama fizeram por Silveira o que os civis do Palácio do Planalto não se animaram a fazer.

Mas o deputado pode perder o mandato e pode também, sem poder político, ser abandonado, como abandonaram Sara Winter e Adriano da Nóbrega porque viraram perdedores.

Poucos políticos são hoje tão próximos de Bolsonaro e tão poderosos quanto o novo presidente da Câmara, Arthur Lira. E Lira disse em entrevista ao Globo no domingo, como se explicitasse uma posição avalizada por Bolsonaro, que Silveira “terá que arcar com as consequências” das ameaças que fez.

Se Bolsonaro ainda estivesse oferecendo proteção ao deputado que pensou ser um general imune a represálias, o coronel do centrão não teria dito o que disse.

Os sinais são de que abandonaram o aprendiz de miliciano, mesmo que o Conselho de Ética tente preservar seu mandato.

Uma dúvida elementar nesse caso é se, largado pelos parceiros que o induziram ao suicídio político, Silveira entrará em desespero, como aconteceu com Sara, ou se atacará os antigos chefes e aliados. O deputado vai tombar atirando?

No que Daniel Silveira vai se transformar sem mandato (ou com um mandato precário, amarrado com barbantes e arames do centrão), sem amigos poderosos e sem apoio dos Bolsonaros?