Sempre esteve subentendida, em todas as interrogações sobre o assassinato de Marielle Franco, a suspeita de que Bolsonaro pode ter envolvimento com o crime. Ele e seu entorno familiar.
É inevitável que a especulação se renove e se revigore agora, com a confissão do ex-PM Élcio de Queiroz de que Ronnie Lessa matou Marielle e de que eles tiveram, nos preparativos e nos desdobramentos do crime, a participação de outros dois bandidos.
Lessa deu os tiros e Élcio dirigiu o carro. Mas antes o ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, o Suel, fez campanas e monitorou Marielle. E bem antes o então sargento da PM Edimilson Oliveira da Silva, o Macalé, “trouxe o trabalho” para Lessa.
O ministro Flavio Dino diz que, com a confissão e o que virá a seguir, as investigações atingem novo patamar.
Poderemos ir para a fase do fechamento de coincidências que empurram Bolsonaro para perto dos envolvidos?
O novo patamar pode ajudar a esclarecer por que Lessa era vizinho de Bolsonaro? Por que Élcio convivia com Bolsonaro e tirava fotos ao seu lado?
Por que o miliciano Adriano da Nóbrega foi executado na Bahia? Por que Élcio entrou no condomínio da Barra no carro usado na execução, depois de perguntar pelo seu Jair?
Por que o porteiro que atendeu Élcio foi desqualificado como testemunha? Por que sumiu? Por que trocaram tantos policiais e promotores das investigações sobre o assassinato?
Por que Lessa acusava Adriano de ter matado Marielle? Por que Flavio Bolsonaro homenageou Adriano?
Por que, na coincidência mais recente, o capitão reformado do Exército Ailton Barros, amigo dos Bolsonaro, disse em conversa com o coronel Mauro Cid, então faz-tudo do Planalto, que sabia quem matou Marielle?
Todos os personagens principais do assassinato cruzaram com Bolsonaro. Como também cruzaram, por coincidência, todos os principais identificados até agora com a tentativa de golpe. Eles conviviam com Bolsonaro e eram a ele subordinados.
Ronnie Lessa, Adriano da Nóbrega, Élcio de Queiroz, Ailton Barros, Suel e Macalé estavam no cenário ou conheciam o cenário do assassinato.
O delegado Anderson Torres, os coronéis Mauro Cid e Jean Lawand Junior e outros ainda escondidos ou encobertos conheciam os cenários que estavam sendo montados para o golpe. Todos cruzavam por Bolsonaro.
As novas informações sobre o crime criam expectativas e ao mesmo tempo ampliam uma outra dúvida, a mais incômoda de todas.
É possível que a morte de Marielle e o golpe tenham executores e que nunca se chegue, com provas, ao mandante?
Lessa disse a Queiroz que tinha uma missão naquele 14 de março de 2018 quando matou Marielle. Missão recebida de quem? Quem mandou matar Marielle?
Macalé era o arquivo do mandante e foi executado em 2021. Mas Lessa e seus parceiros sabem de quem foi a encomenda.
Mas quem mandou que fossem adiante com o golpe? Torres, Cid e outros civis e fardados sabem muito bem.
Falta, no caso do golpe, um delator disposto a reduzir suas culpas e suas penas. Também as investigações sobre o golpismo precisam chegar a outro patamar.
Originalmente publicado em Blog do Moisés Mendes
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