A boxeadora argelina Imane Khelif enfrenta desafios significativos em sua carreira devido a questões relacionadas aos regulamentos de gênero no esporte. Agora virou alvo da extrema-direita por ser “acusada” de ser uma “mulher trans” ao vencer a italiana Angela Carini, que abandonou a luta aos 46 segundos de disputa, nesta quinta (1), nos Jogos de Paris 2024.
Recentemente, ela foi reprovada em testes da Associação Internacional de Boxe (IBA) que avaliavam os níveis de hormônios e outras características biológicas.
No entanto, o Comitê Olímpico Internacional (COI) decidiu autorizá-la a competir nos Jogos Olímpicos, considerando outros aspectos além dos parâmetros estritamente hormonais. A decisão do COI representa uma abordagem mais inclusiva e moderna em relação à participação de atletas com variações de características sexuais.
Este caso reflete uma evolução nas políticas esportivas, que agora tendem a considerar a identidade de gênero e o direito à competição justa, em vez de apenas parâmetros biológicos rígidos. Edinanci Silva, judoca brasileira, enfrentou uma situação diferente, porém com algumas semelhanças.
Em 1996, antes dos Jogos Olímpicos de Atlanta, foi descoberto que Edinanci tinha testículos internos, uma condição conhecida como pseudo-hermafroditismo. Isso resultava em níveis elevados de hormônios masculinos em seu corpo.
Naquela época, para que pudesse competir, Edinanci teve que passar por uma orquiectomia, cirurgia para remoção desses testículos, devido aos regulamentos do chamado “teste de feminilidade”. Esse teste exigia que mulheres atletas se despirem diante de um comitê para avaliação de suas características sexuais, uma prática altamente invasiva e humilhante.
O teste de feminilidade foi banido em 1998, refletindo uma mudança significativa na forma como questões de gênero e características sexuais são tratadas no esporte.
Os casos de Imane Khelif e Edinanci Silva ilustram a evolução das políticas esportivas em relação ao gênero e às características sexuais dos atletas. Nos anos 90, o esporte internacional ainda mantinha práticas altamente invasivas e baseadas em concepções rígidas de gênero.
Edinanci Silva foi forçada a se submeter a uma cirurgia para cumprir os regulamentos da época, que não levavam em conta a identidade de gênero e o direito à privacidade dos atletas.
Por outro lado, a situação de Imane Khelif mostra um avanço significativo. A decisão do COI de permitir que ela competisse indica um reconhecimento da complexidade das questões de gênero e uma tentativa de equilibrar a justiça competitiva com a inclusão. A abordagem moderna considera não apenas os níveis hormonais, mas também a identidade de gênero e o bem-estar dos atletas.
Esses casos refletem a luta contínua por direitos e inclusão no esporte. Eles também ressaltam a importância de políticas que respeitem a dignidade e a identidade dos atletas, enquanto buscam manter a equidade nas competições.
A história de Edinanci Silva destaca o passado opressivo e discriminatório dos testes de feminilidade, enquanto o caso de Imane Khelif sugere um futuro mais inclusivo e compreensivo para atletas com variações de características sexuais.