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É impossível exagerar a gravidade da ameaça contra o CNPq. Não são apenas milhares de pesquisadores que ficarão sem bolsa – para muitos deles, a única fonte de renda – e milhares de projetos sem continuidade. Não é apenas a quebra unilateral e arbitrária de milhares de contratos, que tinham gerado expectativas e investimentos pessoais (abandono ou recusa de oportunidades de emprego, mudanças de cidade, esforços de qualificação) agora ameaçados de se tornarem inúteis.
Isso já seria suficientemente grave, mas há mais. O desmonte do CNPq – fala-se até de sua extinção – representa um golpe fatal na pesquisa e na pós-graduação no Brasil.
Vamos abrir mão de vez da expectativa de sermos um país soberano e nos acomodar passivamente à posição de receptores de conhecimento produzido alhures? Vamos aceitar o aniquilamento da nossa inteligência? Vamos ficar como espectadores do avanço científico e tecnológico? Vamos negar a nós mesmos a possibilidade de construir um projeto de nação? Vamos abraçar de vez o atraso e o subdesenvolvimento?
A destruição da pós-graduação e da pesquisa terá um efeito cascata nos outros níveis de ensino, fazendo decair ainda mais a qualidade da educação oferecida no Brasil. É a política de quem antevê um país de trabalhadores subqualificados, com uma formação precária sendo fornecida para uma pequena casta de gerentes e os filhos da elite indo de novo se ilustrar no exterior – agora não mais Coimbra, provavelmente, mas algum lugar na América do Norte.
Será que nossa classe dominante se tornou tão tacanha, tão limitada, que entrou toda de cabeça nesse projeto?
Não acredito nisso. Há, claro, uma parcela de fanatizados, de imbecilizados pelo ódio, que acreditam que o conhecimento é uma forma de perversão, que as universidades são antros de drogados e devassos, que Olavo fornece o alimento intelectual necessário e suficiente. Mas não são a maioria.
Mesmo entre setores que aceitam o bolsonarismo como instrumento para efetivar retrocessos, há muitos que não compactuam com a destruição do sistema de pesquisa e ensino construído ao longo de décadas. Falo de uma parcela do empresariado, da mídia, da elite política. E, claro, das classes médias, que continuam querendo ver seus filhos na universidade, de preferência pública, recebendo formação de bons professores.
A defesa do CNPq – e, por consequência, da pesquisa científica e da pós-graduação no Brasil – é um teste para ver se esses setores estão rendidos de vez ou são capazes de se somar à resistência em pelo menos algumas questões básicas. Nossa tarefa é apontar a gravidade do que está acontecendo, esclarecer as implicações da agressão ao CNPq e estabelecer as condições de uma ação ampla e efetiva, capaz de revertê-la