O episódio Sheherazade jogou luzes sobre o tipo de jornalismo feito por Sílvio Santos no SBT.
O baixo Ibope fez com que ninguém prestasse atenção à linha editorial do SBT.
Hoje, o jornalismo do SBT é uma máquina vibrante e histérica de propaganda de direita fanática. Tudo isso se faz sem que sejam questionados os limites do que você pode fazer numa concessão pública como é o caso das emissoras de televisão.
Vale tudo? É o que parece.
Scheherazade está longe de ser um caso isolado no SBT. Ela tem uma espécie de irmão gêmeo num comentarista da afiliada do SBT em Curitiba, Paulo Eduardo Martins.
Martins se dedica em regime de 24 por 7 a louvar a direita e a dar cacetadas na esquerda. Num comentário, ele se referiu a Che Guevara como um “porco comunista”.
Em dois outros, ele vendeu livros de extrema direita. Um de Olavo de Carvalho, um homem de “inteligência sublime”, e outro de seu discípulo Rodrigo Constantino.
Quer dizer: uma concessão pública está sendo usada para fazer propaganda de extrema direita – sem que ninguém pelo menos debata se isso pode.
Admiradores de Martins, talvez instigados por ele mesmo, fazem pressão agora para que Sílvio Santos o coloque no SBT nacional ao lado de Scheherazade.
Circula até um abaixo assinado na internet endereçado ao chefe de jornalismo da emissora.
O jornalista Lino Bochinni, num artigo sobre Scheherazade, notou a responsabilidade do governo em não fazer nada para ao menos levantar a discussão sobre casos de incitamento ao ódio na televisão.
Alguma autoridade deveria ao menos se pronunciar sobre o caso para dizer algo do gênero: “Ei, estamos vendo isso, e não nos agrada muito.”
Lembremos que, ao fim, a pregação ultradireitista é dirigida claramente contra o PT e, por extensão, contra os brasileiros que elegeram o partido nas urnas.
Com a omissão do governo, a brigada de ultradireita vai avançando na mídia corporativa.
Na Veja, foi como se Roberto Civita saísse por uma porta para que Olavo de Carvalho entrasse por outra.
No SBT, Sílvio Santos não precisou sair por porta nenhuma para que o mesmo acontecesse. Certamente ele a abriu para o pensamento de extrema direita.
O avanço dos ultraconservadores é uma ameaça à democracia, como sabemos pelas trágicas lições de 1954 e 1964.
Que concessões públicas sejam utilizadas para promover escancaradamente uma causa tão sinistra é algo que desafia a inteligência e o bom senso mais elementares.