O “Bolsa Crack” precisa de um voto de crédito

Atualizado em 8 de maio de 2013 às 14:55

O que se espera, entretanto, é que o “benefício” não se transforme em mais um instrumento de malandragem à brasileira.

crack

De boas intenções o inferno está cheio. E o paraíso também.

O programa a ser lançado nesta quinta-feira oferecendo uma bolsa de R$ 1350 para custeio de internação de dependentes de crack em clínicas especializadas precisa de um voto de crédito.

Sobretudo, precisa deixar de ser mais uma intenção e se transformar em ação continuada.

A proposta é um desdobramento do Programa de Internação Compulsória implantado no começo do ano e que vem esbarrando na falta de leitos. Sobretudo para as internações voluntárias.

A ideia agora é ampliar a rede de clínicas terapêuticas – demanda urgente – para dar continuidade aos tratamentos iniciados em instituições públicas.

Ou seja, detalhe importante, destina-se somente àqueles que já passaram pelas internações referendadas pelos Cratods (Centro de Referência de Tabaco, Álcool e Outras Drogas).

O que se espera, entretanto, é que o “benefício” não se transforme em mais um instrumento de malandragem à brasileira. Se passar a existir um comércio paralelo de cartões, como sempre existiu com vales-transporte, bilhetes-únicos e similares; se o governo do Estado não repassar o crédito para as clínicas (sim, acontece muito); se as clínicas forjarão cadastros para receberem um volume maior de repasse (infelizmente também é corriqueiro), aí permaneceremos no inferno de sempre.

Sem o anúncio oficial, ainda não se conhecem os 10 municípios que farão parte do programa piloto. Não há uma data prevista para o benefício passar a valer em todo o Estado. Não ficou claro também se será oferecido por família ou por usuário e nem quais clínicas poderão se credenciar.

Com todas essas incertezas, é estarrecedor observar a reação automática e fortemente negativa com as quais o programa foi recebido.

Maldosamente referindo-se a ele como “bolsa crack”, pessoas fazem comparações estúpidas com o salário mínimo (?) e candidatam-se a receber a bolsa (?) sequer levando em consideração que não haverá dinheiro circulando nas mãos dos dependentes (o instrumento é um cartão para ser utilizado em clínicas).

Quem tem dependente de substâncias químicas na família sabe bem o inferno em que vive e os períodos de internação precisam ser longos, obscenamente custosos em termos de valores e de abalos emocionais. Ao contrário de benefícios em que é possível encontrar pessoas simulando uma situação de necessidade ou miséria para usufruto derivado, não me passa pela cabeça que alguém pudesse forçar um filho a se tornar viciado para embolsar um dinheirinho. Onde estaríamos?

Causa espécie ler esses comentários vindos de pessoas que possuem celular de R$ 2000 e que acham um absurdo o governo “gastar” R$ 1350 com um problema social e de saúde pública (e, de quebra, de segurança, pois o celular de R$ 2 mil pode ser roubado com consequências imprevistas por um nóia para comprar uma pedra de 5 reais).

Enfim, de gente rápida no gatilho o inferno parece estar cheio também.