O camarote que israelenses montaram para assistir Gaza ser bombardeada

Atualizado em 2 de novembro de 2023 às 21:38

O general e escritor americano William T. Sherman dizia que o sucesso na guerra é obtido “sobre os corpos mortos e mutilados, com a angústia e lamentações de famílias distantes”. Apenas aqueles que “nunca ouviram um tiro e nunca ouviram os gritos e gemidos dos feridos e dilacerados clamam por mais sangue, mais vingança, mais desolação”.

Das cenas deploráveis do massacre na Faixa de Gaza ao longo do tempo, uma ganhou destaque pelo inusitado macabro.

Em 2014, viralizaram imagens de grupos de israelenses assistindo a bombardeios do alto da colina da cidade de Sderot. Não exatamente contritos. Eles vêem os mísseis viajarem no céu e aplaudem quando atingem o alvo. A maioria carrega cadeiras de plásticos para o lugar. Há até sofás. Comem pipoca e tomam cerveja.

Sderot fica próxima de Gaza e tem uma vista privilegiada daquela área. Repórteres costumam ir para lá em busca de imagens para telejornais.

Um dinamarquês chamado Allan Sorensen postou uma foto no Twitter do camarote e escreveu: “Cinema Sderot”. O tuíte foi compartilhado milhares de vezes.

Diante da repercussão, Sorensen explicou que aquele tipo de reunião insólita não era novidade e que foi tema de uma reportagem da TV da Dinamarca havia cinco anos. “Isso é parte do processo de desumanizar o inimigo”, disse ele.

Uma outra jornalista acabou abatida. Diana Magnay, da CNN, estava narrando a chuva de mísseis. Numa certa altura da matéria, com a algazarra ao seu lado, ela se viu obrigada a explicar o que era aquilo.

Mais tarde, postou o seguinte nas redes sociais: “Israelenses no monte em Sderot comemoram enquanto bombas aterrissam em Gaza; ameaçam destruir nosso carro se eu falar uma palavra errada. Escória”.

Magnay apagou o post, mas não adiantou. Foi afastada da cobertura e enviada para Moscou.

Organizações de direitos humanos de Israel pressionaram, inutilmente, para que o drive in fosse fechado. “Nós estamos aqui para ver Israel destruir o Hamas”, afirmou uma das frequentadoras.

O que estava sendo destruído ali era algo bem maior do que ela imaginava, era intangível e não era o Hamas.