Na célebre reunião em que Michel Temer conspirou abertamente contra o governo do qual ainda faz parte — “Ninguém vai resistir 3 anos e meio com esse índice baixo”, disse ele, por exemplo —, brilharam a simpatia, a beleza e a esperteza da anfitriã Rosângela Lyra.
Rosângela é a presidente de um certo movimento Política Viva. Ela já recebeu, antes, homens do calibre de José Serra, Aloysio Nunes e Ronaldo Caiado. Noves fora a má intenção escancarada de Temer, é de se perguntar que diabos Rosângela está fazendo à frente de uma iniciativa dessas.
Nem ela sabe a resposta. Ex-representante da grife Dior no Brasil, locomotiva da sociedade paulistana, a bonita Rosângela, católica fervorosa, ficou conhecida da patuleia como sogra de Kaká (o casal se separou). Desde o ano passado embarcou na histeria pró-impeachment.
Ela conduziu a sabatina de Temer com perguntas desse quilate: “E ela sendo uma mulher, com o Congresso sendo amplamente masculino, também isso dificulta, né? De ter pessoas para conversarem com ela. Ela e a mãe dela morando lá no Palácio. Então, é assim, vendo esse cenário todo, como é que a gente faz de fato para ter uma mudança mais rápida, para não deixar sangrar o país. Porque a política… O problema da política… É… As pessoas que perderam os seus empregos, que estão sem perspectivas, pais de família desesperados. Como é que a gente faz para mudar isso o mais rápido possível?’’
Lyra quer “mudar isso o mais rápido possível” porque, bem, sei lá, é, poxa… está na hora de brincar de outra coisa. Hoje ela tem pendurada uma bandeira do Brasil de ponta-cabeça na varanda de seu apartamento no Itaim Bibi, que só será desvirada “quando o PT sair”.
Organiza o que chama de pocket actions: ações que, apesar de juntar pouca gente, “reverberam na mídia”. Uma moça fina que não se vexa em ir à Paulista gritar “Lula, cachaceiro, devolve o meu dinheiro!”
Rosângela vive naquele mundo psicológico dos ricos com suas noções próprias. Como escreveu Scott Fitzgerald no “Grande Gatsby”, referindo-se aos milionários Tom e Daisy Buchanan, são pessoas negligentes, que destroem seres e coisas, unidos pelo dinheiro, e que depois mandam outros limparem a bagunça que fizeram.
Ela, João Doria e Regina Duarte são o mesmo coração, diferentes eventualmente na falta de senso de ridículo. No último protesto anti Dilma, Regina trepou numa árvore para fazer uma selfie com os manifestantes. Aos 68 anos, a ex-namoradinha do Brasil não tinha ninguém para lhe sugerir que estava pagando um mico.
Quem melhor definiu esse bando foi o antigo cônsul geral dos EUA em São Paulo, Thomas White. Em documentos vazados, ele faz referência ao patético “Cansei”, o grupo de “cidadãos da nata”, como definiu um deles, que estava farto da corrupção, do caos aéreo, da falta de segurança.
O líder era João Doria, o protocoxinha, que prometeu ma última semana vestir camiseta e jeans para visitar a periferia em sua campanha para a prefeitura paulistana, caso ele seja indicado candidato pelo PSDB. Doria é o tipo do idiota, no sentido medieval, que acha normal reclamar da “roubalheira” enquanto tem um cargo na CBF.
Voltando a White, ele definiu a turminha assim: “um grupo de membros ricos da elite branca sem nada melhor para fazer do que reclamar”. Para o americano, “os líderes do movimento, por toda sinceridade e seriedade, tornaram-se alvos fáceis para a caricatura”.
Rosângela Lyra, Doria et caterva prestam um serviço enorme a quem ainda tinha qualquer dúvida de que eles não passam de caricaturas.