Mais um capítulo numa série da qual o Diário se orgulha: as conversas com escritores mortos. Desta vez. o entrevistado é Oscar Wilde, o grande autor de O Retrato de Dorian Gray, romance do qual foram extraídas as frases abaixo:
Senhor Oscar, qual sua opinião sobre o casamento?
O melhor é nunca se casar. Os homens se casam porque se cansam; as mulheres, porque são curiosas: ambos se desapontam. Ainda assim, há um encanto: fazer uma vida de enganos necessária a ambos os lados.
Isso me deu a entender que qualquer homem que se casar será infeliz.
Na verdade, não é bem isso. Um homem pode viver feliz com uma mulher desde que não a ame.
O mesmo serve para as mulheres?
Podemos dizer que sim, mas com elas é mais fácil. As mulheres são mais bem feitas para suportar mágoas do que os homens. Elas vivem em suas emoções. Apenas pensam em suas emoções. Quando obtêm enamorados, é apenas para ter alguém com quem ter cenas.
Sinto muito por elas.
Não sinta. Acredito que as mulheres apreciam a crueldade mais do que ninguém. Elas têm instintos maravilhosamente primitivos. Nós as libertamos, mas elas permanecem escravas procurando por seus amos, do mesmo jeito. Elas amam ser dominadas. Além disso, não devemos sentir pena de ninguém. Muita gente estraga a vida com um doentio e exagerado altruísmo.
O senhor dá a entender que as mulheres são como escravas voluntárias. Todas o são? Mas não há mulheres fortes?
Não, mas há mulheres perversas. Principalmente as bonitas – pelo menos sete em cada dez mulheres bonitas são perversas.
Perversas?
Sim, embora esse termo seja muito vago. Considero que a perversidade é um mito inventado pelas pessoas boas para explicar o que os outros têm de curiosamente atrativo.
Mas não há mulheres corajosas, fortes, intelectuais?
Se houver, tenho certeza que não são bonitas. O intelecto é, em si mesmo, um exagero e destrói a harmonia de qualquer rosto.
Eu vejo que seu ponto de vista é bastante cínico. Na sua opinião, a lealdade e a fidelidade são objetivos impossíveis de se alcançar?
Minha cara jovem, as pessoas que amam apenas uma vez em suas vidas são realmente superficiais. O que elas chamam de lealdade e de fidelidade, eu chamo tanto de letargia do costume quanto de falta de imaginação. A falta de fé está para a vida emocional tanto quanto a consistência está para a vida intelectual – simplesmente a confissão de um erro.