Uma influencer se suicidou depois de ter sido abandonada no altar e cruelmente linchada nas redes sociais.
No dia de seu casamento, Aline Araújo recebeu uma mensagem do então noivo pondo fim à relação. Salão decorado, buffet contratado, os convidados esperando a celebração e a família depositando expectativas, e simplesmente não haveria mais casamento.
Em vez de lamentar, a influencer decidiu que aproveitaria a festa e se casaria consigo mesma. Escreveu um post de desabafo no Instagram, em que contava sobre o abandono e falava sobre a decisão de casar sozinha.
Os comentários foram os piores possíveis. Em vez de oferecerem o afago que a pobre mulher buscava, todos estavam prontos para iniciarem o julgamento. “Bem feito”; “Ninguém é obrigado a viver com suicida”; “Vai se tratar”; “Tudo mimimi pra chamar atenção”; “Essa aí só quer se promover”; “Com essa boca horrorosa, eu também abandonaria”.
Uma mulher depressiva. Abandonada no altar. Com tendências suicidas.
Onde estão os monstros das redes quando cruzamos com eles nas ruas? Quem teria coragem de fazer comentários tão cruéis sem a proteção de uma tela?
Aline não tirou a própria vida sozinha, muitas coisas a mataram: a pressão social para que mulheres se casem ou tenham um relacionamento para serem legitimadas, o descaso com a depressão, a dependência da aprovação nas redes sociais e sobretudo o fato de as pessoas tornarem-se extremamente cruéis quando se auto-proclamam juízes na internet.
Tá tudo errado.
Errado que a gente considere tão natural desabafar e procurar afago nas redes sociais em vez de ligar pra um amigo. Que a gente precise tanto da aprovação de gente que a gente não conhece. Que tanta gente se sinta tão confortável em machucar os outros nas redes sociais. E que comentários em redes sociais afetem de forma tão nociva – literalmente – a vida de tantas pessoas.
Aline é mais uma vítima dos nossos tempos. Em diferentes níveis, todos somos.
Buscar a autonomia é difícil em uma realidade que nos oferece aprovação fácil e altos níveis de serotonina e dopamina com likes e comentários.
Estamos vulneráveis. Falando da forma mais crua possível – tão crua que talvez pareça exagero -, a verdade é que essa geração precisa da aprovação de quem não conhece para que sua vida faça sentido.
Certamente seguiremos vítimas dos nossos tempos independente de nossa vontade, mas está mais do que na hora de olharmos para ele com franqueza.