Um site chamado “Rio de Nojeira” foi registrado e colocado no ar no dia 13 de dezembro de 2017. Com o subtítulo “metendo a real no Brasil”, o conteúdo é abertamente racista.
A página ataca o time de eSports (games competitivos) INTZ, diz que o ator Bruno Gagliasso adotou uma “macaca” (referência à filha do artista), chama o youtuber Luccas Neto (irmão de Felipe Neto) de “herói da pedofilia brasileira” e defende que a “pedofilia deveria ser legalizada”.
O autor é um tal de “ricwagner1”. Ele se gaba de que “goza da impunidade” e que seu site permanecerá online.
O nick é muito parecido com o nome de Ricardo Wagner Arouxa. Seus dados constam como dono do domínio no site who.is, que localiza os IPs na internet.
Ricardo Wagner, no entanto, não é o dono.
Conforme apontado pela reportagem do site Ponte Jornalismo, seu nome e os dados foram utilizados por um fórum anônimo chamado Dogolachan, que ameaça mulheres, cultua pedofilia e se escondem na internet para cometer crimes.
São o que se chama na de “channers”. Utilizam fóruns anônimos para fazer ataques em rede. Um dos mais famosos foi o 4chan. Muitos dos membros engrossaram o movimento “alt-right”, que ajudou a eleger Donald Trump nos Estados Unidos.
O Dogolachan atacou no passado figuras de esquerda e importuna Ricardo Wagner Arouxa há pelo menos seis meses.
Em julho de 2017, o DCE da Unicarioca pediu a prisão de Ricardo Wagner por ataques virtuais racistas.
No mês de setembro, os channers usaram o nome dele para ameaçar de morte a jurista do impeachment, Janaína Paschoal.
Eles afirmaram em mensagem a Janaína que ela deveria pagar-lhe R$ 20 mil ou ele “não se responsabilizava” pelo que poderia acontecer aos seus filhos Urbano e Olavo. As postagens do DCE e de Janaína estão fora do ar.
O DCM entrou em contato com Ricardo Wagner Arouxa por email.
“As autoridades competentes estão se empenhando no caso e gostaria de enfatizar que é necessário que a imprensa abra os olhos para o que aconteça debaixo do nosso nariz. A blogueira Lola Aronovich é vítima do mesmo grupo há anos e eles fazem literalmente o que querem com a extrema certeza de que são inimputáveis”, diz ele, que é estudante de análise e desenvolvimento de sistemas na Unicarioca.
No caso de Janaína Paschoal, Ricardo Wagner afirma que ligou para ela e desmentiu a história depois de uma longa conversa. O que ficou no ar foi um tuíte de Alexandre Frota, que ele não apagou, acusando-o de cometer crime.
O caso mais recente envolve o site Rio de Nojeira e uma postagem colocada no ar no 6 de janeiro de 2018, chamando alunos negros da Unicarioca de “macacos”.
Colocaram fotos dos estudantes sem autorização e links de seus perfis pessoais no Facebook.
A página utiliza a mesma linguagem de channers em fóruns anônimos, chamando mulheres de “depósito de porra”. Muitos deles louvam o pré-candidato Jair Bolsonaro.
Ao DCM, a namorada de Ricardo Wagner Arouxa, Jussara Ferreira, reclamou da sanha justiceira de muitos que souberam do site e acusaram injustamente o estudante.
Os youtubers AD Junior e Izzy Nobre chegaram a comentar o assunto. Muitos acusaram Ricardo Wagner e voltaram atrás.
Ricardo está prestando esclarecimentos na Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI) no Rio de Janeiro.
O site atribuído falsamente a ele não é um caso isolado relativo a bolsonaristas que acreditam estar protegidos pelo anonimato na rede.
Uma outra página anônima foi criada nesta primeira semana de 2018 e acusa Ricardo de ser pedófilo com printscreens falsos.
Ela inclusive divulgou posts no site de channers com tuítes do repórter do DCM conversando com Ricardo Wagner Arouxa sobre as falsas denúncias.
Esse pessoal estará a solta neste ano eleitoral — e episódios como o de Ricardo Wagner Arouxa devem se multiplicar.