O certo, o errado e o artesanato no The Voice Brasil

Atualizado em 24 de outubro de 2014 às 16:21
os técnicos não são estes
Os técnicos não são estes

 

Mamma mia! Que discussão acalorada sobre o The Voice. Parece guerra. De um lado, o jornalista, seus fãs e as pessoas que concordaram com seus argumentos; de outro, as divas, seus fãs, e pessoas que discordaram dos argumentos.

Peço licença apenas para falar sobre um detalhe: não há certo e errado em arte. Não existe um cantor certo e um cantor errado. Quem tem boca, canta como quer.

E o texto não defende “certo e errado”.

Mas existe um cantor que comunica e um que não comunica. Existe um cantor que interpreta e outro que não interpreta. E por interpretar e comunicar, a figura mais fácil de entender é a de um ator. Pense, sei lá, na maravilhosa Fernanda Montenegro, por exemplo. Ela interpreta e comunica. Ela não simplesmente lê as falas de um roteiro. Ela entende as falas, entende o contexto, e trabalha de acordo com as falas e o contexto.

Ela, por exemplo, não falaria “querido, sua mãe morreu” com um sorriso no rosto – exceto se isso tivesse sentido artístico.

O cantor que interpreta, o cantor que comunica, está para a música como a Fernanda Montenegro está para o teatro. Um cantor que não interpreta, por mais afinado que seja, por mais que seja tecnicamente perfeito, está para a música assim como eu estou para o teatro – nada.

Daí a crítica aos Voices. Eles, em geral, não sabem interpretar, ou interpretam mal. Não é técnica a crítica; é artística. E você nota a diferença quando qualquer um dos profissionais sobem ao palco. Bem ou mal, uns melhores e outros piores, eles sabem, de modo geral, o que fazer e o que não fazer.

Certa vez eu estava preocupado com um timbre de guitarra numa gravação. O produtor, o maior com quem já trabalhei e um dos maiores do Brasil, me disse: “Timbre é um problema técnico. O técnico de som pode fazer um bom timbre. Você precisa se preocupar em tocar.” Esse é um produtor que inclusive trabalhou nos melhores anos da carreira do Daniel.

Jamais esqueci esta frase. E soube diferenciar o que é tecnico do que é artístico. Técnico é o tio que pinta casinhas coloridas e vende no Pelourinho. Ele pode fazer isso muito bem, ele pode ser perfeito. Mas ele é um tecnico, não um artista.

Ele faz artesanato.

Ele pode até saber pintar melhor, tecnicamente, do que o Van Gogh. Aliás, o Van Gogh não era um dos melhores pintores, tecnicamente falando. Mas foi um dos maiores, senão o maior, artisticamente.

Os The Voices, em geral, fazem artesanato. São tecnicos – uns melhores, outros piores, uns fracos, outros fantásticos. Mas são tecnicos, não artistas. E quando falo em geral, é porque não são todos, que isso fique muito claro. Houve artistas lá.

É só isso. Pura e simplesmente isso.

Bom ano novo a todos.

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O Escolar, de Van Gogh, exposto no MASP

 

artesanato vendido no Pelourinho
artesanato vendido no Pelourinho