O charme canalha de Pedro Barusco

Atualizado em 11 de março de 2015 às 12:13
Pena que o talento tenha sido empregado na roubalheira
Pena que o talento tenha sido empregado na roubalheira

Se eu tivesse que convidar uma pessoa entre as presentes hoje ao primeiro depoimento da CPI da Petrobras para beber num bar, seria Pedro Barusco.

Batata.

Os deputados que o entrevistaram eram confusos, tediosos, insípidos.

Barusco é um canalha, é certo.

Mas é um canalha carismático, capaz de enfrentar com firmeza inabalável e calma invencível câmaras de televisão num espetáculo particularmente deprimente para ele.

Em meio a inquidores pretensamente indignados, ele parecia ser o único homem sincero no recinto. Não fingiu sequer arrependimento.

Barusco não tropeçou nas palavras, não gaguejou, não se atrapalhou ao falar em nenhum momento. Não teve faniquitos e, mesmo quando insultado, não perdeu o controle.

Sequer cara de desagrado fez. Portou-se como se fosse um professor experimentado numa sala de aula.

Eis alguém a quem foi dado o dom de se expressar. Poderia ter sido orador na Roma Antiga.

Dado seu talento, é uma pena que a disciplina em que é mestre seja a roubalheira.

A história que ele conta mostra o que todos sabem: propinas na Petrobras são uma história bem mais velha do que os antipetistas gostariam que fosse.

Ele próprio começou a pegar dinheiro em 1996 ou 1997, nos anos FHC. E não parou mais.

As propinas mudaram de escala nos últimos anos, conforme Barusco explicou, sobretudo por uma razão: é que a Petrobras cresceu muito.

Consequentemente, o número de contratos multiplicou-se, bem como o dinheiro das comissões subterrâneas.

Também não deve ser esquecido um decreto de FHC que alterou o caráter das licitações. Facilitou-as, flexibilou-as — e tornou mais simples a formação de carteis. Nas palavras de Eduardo Cunha, que quer matar o governo mas não FHC, o decreto “abriu as porteiras da corrupção”.

Seus inquisidores perderam várias vezes a compostura, mas ele não. Um deputado perguntou se ele tinha medo de terminar como Celso Daniel, cujo assassinato teorias conspiratórias atribuem ao PT.

Ele disse imediatamente que sim. Quem quer ser assassinado, qualquer que seja a pessoa que aperta o gatilho?

A mídia tratou de destacar esse trecho. Ou manipular. É como se Barusco houvesse dito temer ser alcançado pelas balas do PT.

Deu pena, ali, de Celso Daniel, tão usado na morte por oportunistas, e do público alcançado pelas grandes empresas de jornalismo.

Outro deputado disse não acreditar que o dinheiro que Barusco vai devolver – 97 milhões de dólares – seja dele mesmo.

O complemento do deputado foi o previsível: “Não é dinheiro do Lula?”

Nas redes sociais, é possível que aloprados de direita e analfabetos políticos já tenham abraçado a tese de que sim, aquele dinheiro é de Lula, talvez em sociedade com Fidel e Maduro.

Os deputados da CPI pareceram empenhados no primeiro depoimento em provar que a corrupção foi inventada pelo PT, e isso não é bom.

Qualquer combate sério à corrupção deve ter caráter multipartidário. Ou, para usar a já célebre metáfora de Luciana Genro, rotos continuarão a falar de esfarrapados.

Sem eliminar coisas como o financiamento privado de campanhas, vai-se andar pouco. As dezenas de milhões gastas nas campanhas estimulam assaltos a estatais e seus fornecedores, ou “doações”.

Salvou-se, na sessão de hoje, o delator – com seu notável charme canalha.