A imparcialidade jornalística de alguns é mais imparcial que a de outros.
O Roda Viva com Bruno Torturra e Pablo Capilé, da Mídia Ninja, foi o choque entre dois mundos. De um lado, jornalistas experientes, num misto de curiosidade, ceticismo e ciúme. De outro, os protagonistas de uma experiência nova de jornalismo, que capturou o espírito das manifestações e virou, ela mesma, um acontecimento.
A bancada se concentrou, boa parte do programa, em tirar dos entrevistados a resposta para uma pergunta pertinente: quem banca a Mídia Ninja?
A Mídia Ninja é financiada pelo coletivo Fora do Eixo, comandado por Capilé. O Fora do Eixo é mantido com recursos públicos. Capilé, num discurso confuso, que lembrava Gilberto Gil, explicou para um Eugênio Bucci atônito o modelo de negócio, com sua “moeda complementar” (cards), as casas que abrigam artistas etc.
Ninguém entendeu nada, mas daí em diante a briga foi para vincular a Mídia Ninja ao PT. Uma foto de Capilé ao lado de José Dirceu foi mostrada. Era um Roda Viva diferente! Aquela modorra, aquela camaradagem, foi trocada por eletricidade. A contundência estava no ar! Nada a ver, por exemplo, com a participação de José Serra, que deu um passeio na TV Cultura (aliás, um de seus entrevistadores era um ex-assessor de imprensa).
O único que falou um pouco de jornalismo foi Alberto Dines, o mais jovem da bancada, vistas as coisas em perspectiva. Dines perguntou sobre a posição de Torturra sobre a maconha e como ele enxergava a cobertura da imprensa (ao final, também quis saber por que a Mídia Ninja tinha dedicado pouco espaço, na sua opinião, para a discussão sobre o estado laico durante a visita do papa).
Se alguém chegasse de Marte naquele momento, haveria de pensar que se tratava de um tribunal de vestais, nas ruínas de um anfiteatro romano, apontando o dedo para dois aloprados vendidos.
Suzana Singer, ombudsman da Folha, cobrou o fato de eles serem parciais em sua cobertura dos protestos. Capilé, referindo-se ao escândalo do cartel do metrô de São Paulo, mas sem citar nomes, lembrou de como age a mídia: “Dependendo do partido é cartel, dependendo do partido é quadrilha”. Não se sabe bem por quê — ele mesmo reconheceu que não precisava –, Conti saiu em defesa da imparcialidade do que chamou “grande imprensa”.
Talvez por educação, talvez pelo calor do momento, Torturra não aproveitou a deixa para lembrar o motivo por que que aquela era a última edição do Roda Viva com Mario Sergio Conti à frente. Conforme o que o próprio MS contou ao colunista Elio Gaspari, que publicou a história, Conti chamou FHC para o programa. Seu chefe, Marcos Mendonça, presidente da Fundação Padre Anchieta, desconvidou o ex-presidente. Conti teria mantido o convite. Acabou sendo dispensado. Augusto Nunes vai substituí-lo. Suas últimas palavras naquela noite foram “adeus e até breve”.
É a essa imparcialidade e independência que ele se refere? Se for, a Mídia Ninja tem um problema bem mais simples de resolver pela frente.
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