O choro de Aécio no aniversário do golpe. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 17 de abril de 2018 às 19:36
Aécio Neves. Foto: Lula Marques/PT

Pode-se falar muitas coisas sobre o moralista e conspirador La Rochefoucauld, menos que não sabia o que dizia.

Atribui-se a ele a famosa frase em que afirma que “o nosso arrependimento não é tanto um remorso do mal que cometemos, mas um temor daquilo que nos pode acontecer”.

Tão moralista e conspirador quanto o francês, Aécio Neves hoje é a materialização inconteste desse sentimento tão pouco ético e tão muito covarde.

Desmascarado, desmoralizado e abandonado, o senador mineiro que outrora representava a esperança salvadora de 10 em 10 analfabetos políticos do Brasil, hoje arrepende-se do mal que causou à nação, não por remorso, como alerta La Rochefoucauld, mas pelo medo do que pode estar por vir.

Aécio é o típico filhinho de papai que jamais teve que lidar com a derrota.

Acostumado a ter sempre tudo o que quis, o playboy das grandes noitadas cariocas fez, ao receber das urnas a lição que seus pais jamais lhe deram, o que todo moleque mimado faz ao ser contrariado: chorou e esperneou.

O desastre político, econômico e social que patrocinou, junto a uma quadrilha do Congresso Nacional desde os primeiros minutos após confirmada a vitória da presidenta Dilma Rousseff, jogou o país num abismo cuja queda não cessou com o golpe de 2016.

Agora, frente a uma sociedade dilacerada, oficialmente réu em dois processos criminais e com uma carreira política que pode encerrar-se antes mesmo do fim do seu mandato (a PGR pedirá a sua prisão ainda no cargo), o Neves que emporcalhou a memória do saudoso Tancredo treme com o horizonte nebuloso que se apresenta à sua frente.

Evidente que o fato de qualquer cidadão se tornar réu em um processo não o torna culpado. Essa regra constitucional que tanto ele mesmo desprezou quando o réu em questão era algum desafeto, não pode e não deve lhe ser aplicada.

Somos melhores também nisso.

Mas o fato é que, para além das convicções e preferências partidárias dos operadores de nosso judiciário, as provas materiais constantes no processo indicam que a sua ruína pode estar próxima.

É claro que por estarmos tratando de um tucano, os prazos e garantias constitucionais são não só respeitadas, mas escandalosamente alargadas até o limite da prescrição criminal.

Nada obstante, considerada as regras do jogo e no que pese as disparidades de um sistema judicial que se pratica na seara política, a grande justiça poética que se cumpre nesse caso é que o irreversível início da derrocada oficial de um traidor da pátria se dê na exata data de segundo aniversário do golpe que tanto sonhou consumar.

Ninguém jamais pode esquecer as voltas que o mundo dá. Foi nesse mesmo 17/04 que presenciamos escandalizados a mais vergonhosa sessão já vista na Câmara dos Deputados.

Naquele dia Aécio se refestelou ciente que a sua vingança – não propriamente contra Dilma, mas, sobretudo, contra os brasileiros que lhe negaram o brinquedo que tanto queria – já não poderia mais ser contida.

Como um mofino que se regozija com a desventura alheia, Aécio brindou com seus pares o colapso da democracia brasileira. Como um poltrão que se sacia da miséria do seu próximo, sorriu como se não houvesse amanhã.

Pequeno, fraco e ignaro, mal sabia que daquela data a exatos dois anos, seria ele a chorar do próprio feito.

Feliz aniversário de golpe, Aécio.