O congresso micado do MBL levanta de novo a questão: quem paga as contas deles? Por Zambarda

Atualizado em 22 de novembro de 2016 às 6:24
Cidadão preocupado com o Brasil joga Candy Crush no congresso do MBL
Cidadão preocupado com o Brasil joga Candy Crush no congresso do MBL

 

O Movimento Brasil Livre (MBL) de Kim Kataguiri promoveu entre os dias 19 e 20 de novembro o 2º Congresso Nacional do grupo no Condomínio New England, localizado no bairro de Higienópolis em São Paulo.

Teve palestras com Janaína Paschoal, Gilmar Mendes, Reinaldo Azevedo, Danilo Gentili, Alexandre Borges, João Doria e outros desconhecidos. O ministro da Educação de Michel Temer, Medonça Filho, deu as caras.

O auditório comporta 400 pessoas, mas não encheu nem a metade durante o evento.

Os espectadores pagaram R$ 100 para assistir esse povo por dois dias, com direito a cafezinho e biscoitos. Camisetas estavam a R$ 50.

“Quando as coisas pareciam perdidas, os movimentos de rua fizeram a sociedade acordar. Essa foi a resposta que tivemos a partir de junho de 2013, quando as instituições pareciam adormecidas. Há pouco tempo, a imprensa discutiu o Mensalão como o maior escândalo brasileiro, quiçá do mundo. Hoje o caso seria julgado em pequenas causas se for comparado ao Petrolão”, disparou o ministro do Supremo Gilmar Mendes, que exaltou o MBL e não citou uma palavra sobre José Serra, obviamente.

Pedro D’Eyrot, membro do MBL e do Bonde do Rolê, disse que pessoas de esquerda “mantêm menos relações sexuais”, na mesma onda de Luiz Felipe Pondé. Janaína Paschoal, uma das autoras do processo de impeachment, defendeu que os crimes do governo Temer sejam analisados “separadamente” dos supostos delitos de Dilma Rousseff ou do PT.

“A pessoa já chega lá afirmando ‘fora, Renan’! Espera lá. Nós precisamos analisar os processos com mais cuidado na sociedade brasileira. Muitas pessoas vêm falar pra mim que acompanharam os processos televisionados. E uma senhora chegou a me falar: ‘Janaína, sou sua admiradora. Fala para aquele ministro do STF maneirar na fala. Ninguém está entendendo nada’”, disse a mulher que alertou para a invasão do Brasil por Putin a partir da Venezuela.

A reportagem do DCM estava no auditório. “Tá dando muito sono. Vou pegar mais café para continuar acompanhando”, dizia um rapaz. O amigo dele jogava o game Candy Crush no celular.

Havia alguns poucos negros na plateia, apoiadores do vereador eleito Fernando Holiday. Mas o público mais visível no evento era idoso ou de meia-idade, branco e exaltando as “novas vozes da política brasileira”.

“Aqui a gente começa a falar ‘e qual é o voto, deputado’ quando uma pessoa resolve fazer uma pergunta muito longa, tipo palestra. Queremos que as falas sejam mais dinâmicas”, disse Holiday no microfone para Janaína, enquanto outros reclamavam do tempo das perguntas e respostas.

A lojinha de camisetas fez sucesso com as moscas
A lojinha de camisetas fez sucesso com as moscas

 

Cauê Del Valle, um dos organizadores, esclareceu ao DCM que nenhum cachê foi pago. “Só demos passagens aéreas para alguns do Rio de Janeiro, o que é de praxe em eventos deste tipo. O que foi arrecadado dos ingressos foi usado para pagar o Congresso do MBL”.

Como sempre em se tratando do grupo, o financiamento é nebuloso. Não havia nenhum banner de patrocinador. A vaquinha na plataforma kickante arrecadou 13% dos almejados 25 mil reais (o texto do crowdfunding, completamente delirante, garante que depois do MBL somos “uma nação que não tem medo de encarar de frente uma agenda liberal e que continua alerta e vigilante no combate à corrupção”).

O colunista da Folha, da Jovem Pan e da Veja, Reinaldo Azevedo, falou sobre a Operação Lava Jato e os procuradores de Curitiba.

“Temos que parar com essa falsa idolatria. Ser de direita não significa concordar com tudo. E as pessoas adoram essa aderência por contraste, não é? Agora vieram com essa história da ‘anistia do caixa dois’. Não existe jurisprudência retroativa. Isso é uma compreensão errada das leis. A anistia do caixa dois é uma invenção do Ministério Público de Curitiba, do Deltan Dallagnol”, disse.

Para Reinaldo, o PT agora é um “cachorro morto” e o impeachment de Dilma Rousseff é um exemplo de um “milagre que aconteceu” contra o petismo, seguido pelas derrotas da esquerda nas eleições municipais.

Ele se vê como um combatente por dicionarizar o termo “petralha”. No entanto, enxerga irregularidades na Lava Jato e na idolatria ao juiz Sergio Moro. Vê com bons olhos o MBL, mas atacou duramente os manifestantes pró-ditadura militar.

“Não há nada pior do que uma direita burra em relação a uma esquerda burra. É isso que vimos na invasão daqueles fascistoides em Brasília”, disse.

“Eu não estou aqui representando a revista Veja, nem o jornal Folha de S.Paulo ou a rádio Jovem Pan. Falo as minhas opiniões”, explicou. Aproveitou a oportunidade para ridicularizar o blog Antagonista, dos seus ex-amigos Diogo Mainardi e Mario Sabino.

“Vocês não precisam me ler. Cada um lê o que preferir. Tem blog que ganha visualização em cima do Reinaldo Azevedo. Tem site para quem quiser, pra tudo. Sabe aquele blog que adora inventar fatos? O Lula vai ser preso amanhã, hein?”.

Havia pouco mais de 100 pessoas no domingo à tarde. O MBL perdeu para o Faustão.

Reinaldo Azevedo encerrou os trabalhos
Reinaldo Azevedo encerrou os trabalhos