A entrevista chapa branca de Sergio Moro à Folha de S.Paulo foi motivada, segundo o juiz, por seu desejo de “incentivar o trabalho cooperativo de jornalistas investigativos”.
Moro se referia ao projeto de que o jornal paulista faz parte, chamado “Investiga Lava Jato”, em nome do qual a conversa ocorreu.
Trata-se de um consórcio de vinte jornalistas de 11 países da América Latina e da África com foco na cobertura do escândalo de corrupção “que ultrapassou as bordas nacionais”, segundo a própria Folha.
A coordenação é de Milagros Salazar, do portal peruano Convoca, e de Flávio Ferreira, repórter da editoria de Poder, e a ideia é fazer uma investigação integrada.
Moro estava em sua zona de conforto e sabia disso. Surfou num bate papo amigável. Joaquim de Carvalho escreveu sobre sobre isso no DCM.
O site foi lançado no dia 4 de junho e tem, basicamente, notícias sobre obras da Odebrecht.
Uma matéria do Convoca feita em fevereiro, assinada por Milagros, levou o título de “O juiz que encarcerou os poderosos”.
É uma reportagem de rádio. Segundo a apresentação, “Moro é um homem de 45 anos, que fala pouco e trabalha muito”. Ele “devolveu a confiança dos brasileiros na justiça”.
Quem faz a canonização de Moro num portunhol sofrível é Marcos Koren, descrito como “ex chefe de segurança do magistrado”. Koren é assessor de comunicação da PF no Paraná.
“Moro é admirado em toda parte”, conta Koren. “Gosta de viver com modéstia, num bairro que está longe de ser o mais elegante. Não gosta de luxo, aparências.” Etc etc.
Como João Doria, que leva repórteres em suas viagens jabazeiras e recebe de volta elogios disfarçados de matérias, Moro usa a mídia amiga para dar seus recados.
Não existe “jornalismo investigativo” na Lava Jato e ele sabe disso. O que há são vazamentos para os suspeitos de sempre.
Mesmo com tudo a favor, ele demonstrou uma ignorância constrangedora sobre o que acontece nos vizinhos.
“Não tenho como avaliar o trabalho da Justiça no Peru”, afirma. “Não tenho detalhes do que aconteceu”, responde a um venezuelano.
A informação mais curiosa da entrevista é a bagunça — minha mãe diria “azáfama” — da mesa do homem em Curitiba.
No Twitter, alguém fez a piada de pedir para a mãe dele intervir. Moro tem sempre uma turma disposta a ajuda-lo a não falar nada.