O presidente da CPI do Golpe, Arthur Maia, resumiu, ao final da reunião dessa terça-feira, o que restou depois do depoimento do coronel Jean Lawand Junior:
“O senhor é o primeiro depoente que vem aqui e não consegue ter o apoio de todos os deputados da oposição”.
Maia poderia ter acrescentado que Lawand foi o primeiro oficial de alta patente a ser chamado publicamente, várias vezes, de mentiroso e covarde.
Não deve existir, na história recente, e talvez em tempo algum, outro exemplo de humilhação pública como a que o coronel sofreu na CPI.
Lawand não é um mentiroso qualquer, que foi se apresentar a senadores e deputados como um democrata e apaziguador que nunca pensaria em golpe.
O coronel é supervisor do Programa Estratégico Astros, do Escritório de Projetos do Exército, e trabalha no Estado-Maior em Brasília.
Era o militar que trocava mensagens com o colega Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro, com apelos para que o sujeito derrotado por Lula determinasse que os generais dessem o golpe.
Aconteceu depois da eleição e por várias vezes. Queria uma ordem de Bolsonaro que, se desobedecida pelos comandantes, determinaria o fim do Exército. Porque os subalternos iriam reagir.
E foi aí que Lawand se deu mal. O golpista foi visto ontem nas CPI como um coronel disposto a afrontar hierarquias, mesmo que estivesse blefando nas conversas com o colega.
O coronel foi abandonado pela direita na CPI não porque era golpista, mas por ser um mau oficial.
Foi desprezado por nomes fortes da direita e da extrema direita, como Marcos Rogério, Sergio Moro, André Fernandes, Aluisio Mendes.
Outros não o criticaram, mas também não o defenderam. O deputado cearense André Fernandes, autor do requerimento que resultou na formação da CPI, não para investigar os golpistas, mas o governo de Lula, disse:
“Sendo bem honesto, não acredito muito no que o senhor falou aqui, mas também não posso dizer que é mentira. Se alguém quiser acreditar, que acredite”.
Marcos Rogério afirmou, depois de atribuir a invasão de Brasília a uma invenção das esquerdas:
“O senhor não convence ninguém. Uma narrativa que não é boa nem honesta”.
O coronel tentou convencer a CPI de que suas mensagens eram um apelo para que Bolsonaro agisse no sentido de apaziguar, e não de golpear, para que os acampados voltassem para casa.
No começo, provocou algumas risadas. Mas depois não havia como rir de tanta mentira.
O deputado Hidelis Duarte, do PSB do Maranhão, disse:
”Eu quero ouvir aqui um coronel. O seu silêncio é covarde. Estão presas as sardinhas, e os tubarões estão soltos. O senhor está protegendo os tubarões. Proteja os inocentes punidos injustamente. O senhor envergonha a farda”.
Os deputados Rogério Correa e Jandira Feghalli defenderam que o coronel saísse preso da comissão, por mentir tanto.
O presidente da CPI comparou o depoimento ao do dia anterior, do coronel Jorge Eduardo Naime Barreto, ex-comandante do Departamento de Operações (DOP) da Polícia Militar do Distrito Federal, que está preso por suspeita de ter sido pelo menos omisso no 8 de janeiro.
Arthur Maia disse que Naime era um homem honrado e que falou a verdade. Depois se dirigiu ao coronel do Exército sentado ao seu lado:
“O tempo inteiro eu entendi que o senhor estava faltando com a verdade”.
Maia disse que só não determinou que o militar fosse preso porque tem “convicções legalistas”.
E ainda havia um detalhe que fazia com que, na comparação, a situação de Lawand, vestido como civil, ficasse ainda mais depreciada diante do coronel Naime, que foi fardado à CPI.
O coronel do Estado Maior do Exército apareceu no Congresso como se fosse um executivo com um terno de listas. O coronel da PM foi como servidor público com o uniforme de trabalho.
É certo que o amigo de Mauro Cid não vestiu a farda por recomendação do comando do Exército. Se pudesse, iria impor, ao vivo, sua condição de coronel. Os chefes não deixaram.
Sem fardamento, o oficial pode ter entrado no processo de despedida do Exército, depois de estar entre os primeiros da fila para virar general.
O senador Rogério Carvalho, do PT Serjipe, pegou pesado:
“Vocês são o lixo que destrói a imagem do Exército e das Forças Armadas do Brasil”.
Foi um dia constrangedor para os militares, com outro resumo possível, dado pelo senador Veneziano Vital do Rego, do MDB da Paraíba:
“O senhor sai daqui de uma forma vergonhosa para os mais íntimos e para os colegas de farda. O senhor vergonhosamente se acovardou”.
As palavras covarde, acovardou, acovardado, com outras variações, foram as mais repetidas na CPI.
Publicado originalmente no Blog do Moisés Mendes