O deputado federal João Rodrigues, um arquiconservador do assim chamado baixo clero da Câmara, virou notícia nacional em duas ocasiões.
Em nenhuma delas foi por algum projeto interessante que tenha feito. Não consta que jamais ele tenha aprovado projeto nenhum.
A primeira vez que seu nome emergiu foi em maio passado quando ele foi flagrado vendo filme pornográfico no celular em plena votação da Reforma Política.
Posteriormente, ele alegou que estava apagando um vídeo que recebera de amigos no Whats’App. Mas a justificativa remete mais à carne moída de Eduardo Cunha do que a qualquer outra coisa.
É um caso clássico em que você pode invocar a senteça imortal de Wellington, o algoz de Napoleão em Waterloo: “Quem acredita nisso acredita em tudo.”
O segundo estrelato de João Rodrigues veio agora.
Um vídeo que registrou um bate-boca entre ele e Jean Wyllys na Câmara viralizou. Você pode vê-lo aqui.
Quem começou a briga foi Rodrigues. Ele atacou os parlamentares que se opunham a uma medida que facilita o porte de armas. Citou nominalmente JW, a quem chamou de “escória”. Fez questão de vinculá-lo ao BBB de maneira escarnecedora. Gabou-se da “macheza” dos catarinenses.
Rodrigues estava exaltado, ou fingiu bem.
Mas o que fez o vídeo se tornar um sucesso instantâneo na internet foi a resposta épica, eletrizante de JW.
JW disse tudo aquilo que os progressistas gostariam de falar a deputados como João Rodrigues, um dos responsáveis pelo Congresso ser o que é – o pior que o dinheiro pôde comprar. (Rodrigues mesmo coletou 1,6 milhão de reais de financiadores para sua campanha.)
JW chamou-o de “fascista” e lembrou o episódio do filme pornográfico. Também evocou um caso policial da vida pregressa de João Rodrigues.
Em 1999, quando era vice-prefeito de Pinhalzinho, em Santa Catarina, ele foi condenado por crime contra a Lei de licitações na compra de uma retroescavadeira.
O pior programa de tevê, disse com acerto ele, é melhor do que roubar dinheiro do povo.
No melhor momento da resposta, JW lembrou que os conservadores que dominam a Câmara terão que aguentá-lo, um “homossexual assumido” extraordinariamente combativo nas causas sociais.
Mas, poucos dias depois, ficaria claro que os opositores de JW não estão dispostos a aguentá-lo.
O partido de Rodrigues, o obscuro PSD, pediu esta semana a cassação de JW por “quebra de decoro parlamentar” por conta da resposta que ele deu depois de ser chamado de escória aos berros.
Pela estranha lógica, xingar de escória e safado pode. De fascista, em resposta, não.
Agredir pode. Reagir, não.
Se houve quebra de decoro, ela foi do agressor. A vítima, para usar uma expressão dos tribunais, agiu em legítima defesa.
É altamente improvável que tudo isso vá dar em alguma coisa. Parece ser muito mais uma tentativa de intimidar a mais potente das vozes progressistas num Congresso ocupado pelo atraso.
Mas não deixa de ser exemplar o episódio.
Dizer sucessivas lorotas, como vem fazendo Eduardo Cunha desde que foi desmascarado pelos suíços, é tolerado e até apoiado por centenas de deputados.
Dizer certas verdades depois de ser pesadamente insultado, como fez Jean Wyllys, traz o risco de cassação.
Definitivamente o mundo político nacional deixou de fazer sentido em 2015, um annus horribillis sob todos os aspectos.