O descalabro socioambiental de Bolsonaro era uma tragédia anunciada. Por Gabriel Bitencourt

Atualizado em 16 de agosto de 2019 às 7:19
Charge: “Birolino e o Jornalismo”, de Dinho Lascoski

À luz da razão – veja bem, eu disse RAZÃO! – não há motivo para estarmos surpresos com os descalabros socioambientais cometidos por Bolsonaro, decorrentes de suas ações ou resultantes de seus, hummm!, digamos, discursos.

Lembro que na coluna que mantinha em uma rádio (Ipanema) na região de Sorocaba, já no segundo turno das últimas eleições presidenciais, analisei o programa de governo no campo socioambiental de cada um dos candidatos.

Como a emissora mantinha uma interação com seus ouvintes através do WhatsApp, recebi uma enxurrada de impropérios porque eu não havia conseguido achar nada de consistente nas questões socioambientais no programa de governo do candidato da extrema direita.

Eu buscava, em meio às bravatas – que ele denominava de Programa de Governo –  algo que pudesse se assemelhar com uma proposta. Não havia nada. Absolutamente nada!

Por outro lado, Haddad tinha um capítulo consistente e muito bem detalhado.

Isso já era um indicativo de que o que estaria por vir, caso vencesse as eleições, não seria nada bom.

Assim que o resultado pleito eleitoral foi divulgado, ele começou a colocar em prática suas ideias e/ou compromissos assumidos.

Disse que iria acabar com o Ministério do Meio Ambiente, MMA. Seria somente uma pasta do Ministério da Agricultura.

De olho no comércio exterior e com o mínimo de lucidez, sua base de apoio – o setor latifundiário –  fez com que ele recuasse e, ao invés de, formalmente, acabar com o ministério, resolveu “apenas” sufocá-lo, desestruturá-lo.

Aliás, um passo significativo para o desmonte das políticas socioambientais construídas por décadas e estruturadas no MMA foi a nomeação do novo titular.

O novo ministro já havia sido judicialmente condenado por beneficiar o setor da mineração em detrimento – veja bem! – dos interesses ambientais aos quais ele deveria, ideologicamente, estar subordinado.

Para incrementar o processo de destruição das políticas socioambientais e das salvaguardas do meio ambiente faltava a “cereja do bolo”.

Faltava levar para o ministério da Agricultura um representante do latifúndio – o setor responsável pelo alto índice de desmatamento de diversos biomas, especialmente, da Amazônia – e que, portanto, defendesse o atual modelo agrário concentrador de terras e ultra dependente dos pesticidas.

A escolha recaiu sobre a emblemática deputada Tereza Cristina que, em razão de sua forte atuação em defesa deste modelo, notadamente do uso indiscriminado de agrotóxicos, ficou conhecida pela alcunha de “musa do veneno”.

E, assim foi.

Para um vídeo que publiquei recentemente em meu canal no Youtube – https://www.youtube.com/watch?v=Vl2IyVQn_Fo -, fiz um roteiro cujo alicerce – como no início deste texto – era a afirmação de que não havia motivo para nos surpreendermos com o atual assustador índice devastação da Amazônia; com o genocídio de indígenas e com o envenenamento do meio ambiente e de nossos pratos.

Ele disse o que faria!

Há, entretanto, sempre alguém que pergunte sobre a lógica que produz esses descalabros. Parece, ainda como disse no início, que à luz da razão, não há resposta.

Como um governante pode proceder desta forma?

A falta de aparente lógica neste emaranhado, aponta para o baixo poder cognitivo e pela incapacidade política e intelectual do chefe de Estado.

E aí é que vem outra questão: há freios que possam segurar as aberrações que vêm sendo cometidas por uma pessoa com caraterísticas tão negativas para o exercício de um cargo de tamanha importância?

Talvez, o comércio exterior que está cada vez mais exigente para com princípios básicos no campo socioambiental: produção sem exploração de mão de obra em situação análoga à escravidão, com o uso mínimo de pesticidas, sem agressão aos indígenas e seus territórios e sem desmatamento.

Os desatinos são tantos que, recentemente, geraram intensos debates em parte da mídia sobre o destino daquele que ocupa indecorosamente a cadeira da presidência da república, sendo o ponto central a dúvida se ele deveria sofrer um impeachment pelos crimes que vem cometendo ou interdição por conta dos problemas de ordem psicopatológicos que claramente sofre?

A que ponto chegamos!

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Gabriel Bitencourt é ambientalista e autor de um blog sobre temas de sustentabilidade.