Publicado originalmente no Instituto Humanitas Unisinos
Crianças estariam recebendo injeções sedativas. E Nova York descobre que tem 239 crianças detidas em sua própria cidade.
A reportagem é de Anna Lombardi, publicada por La Repubblica em 21 de junho de 2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Claro, no final Donald Trump cedeu: e na esteira da enorme onda de indignação causada pela imagem das crianças migrantes separadas de seus pais e trancadas em galpões ou gaiolas assinou uma ordem executiva: que a partir de agora nos centros de detenção enviará famílias inteiras. Incluindo, é claro, os pequeninos: que vão ficar com as mães sim, mas na prisão por tempo indefinido. A aplicabilidade da nova decisão tomada pelo presidente Trump – e duramente criticada hoje pelo USA Today, o jornal mais lido dos Estados Unidos, segundo o qual o ato de aparente clemência de The Donald serve apenas para trazer a atenção sobre ele – porém deve ainda ser avaliado.
Explica o New York Times que, para colocar realmente fim à prática de separar as famílias, será preciso enfrentar os obstáculos legais e práticos. Primeiro, porque os juízes federais poderiam se recusar a dar à administração Trump a autoridade de manter as famílias sob custódia encarceradas por mais de 20 dias, que é o limite atual devido a uma ordem do tribunal datada de 1997. Depois, porque a ordem assinada por Trump não enquadra de forma alguma a decisão: onde e sob quais condições serão mantidas as famílias?
Os abrigos para bebês, mantidos calmos com sedativos
Enquanto isso, sobre as condições em que as crianças são mantidas sabe-se muito pouco: os jornalistas não podem visitar os centros, a maioria deles privados, onde eles são mantidos. Mas, enquanto isso, na noite da última terça-feira, circularam notícias inquietantes: como a criação dos “tender age shelters“, abrigos para crianças em tenra idade, ou seja, com menos de 5 anos. Uma notícia de provocou até mesmo a comoção, ao vivo na televisão, de uma das mais famosas âncoras da MSNBC, Rachel Maddow: ela não conseguiu concluir a leitura da folha que continha a informação, um comunicado emitido pela Associated Press, que lhe foi entregue por um colega enquanto estava no ar. Depois acabou por desculpar-se no Twitter divulgando o texto completo, onde se falava de “salas cheias de bebês em lágrimas”. Não é só: um jornal local, o Texas Tribune, revela que em alguns dos centros foram administradas injeções de sedativos às crianças pequenas. Uma prática nada nova – teria sido introduzida cerca de um ano atrás – mas que nestes últimos meses, de acordo com uma ação coletiva impetrada em abril, foi usada em doses maciças.
A indignação em Nova York
Enquanto isso, o prefeito de Nova York, Bill de Blasio denuncia a presença de um centro de detenção em Manhattan: o Cayuga Center do Harlem, localizado entre Park Avenue e a 131ª avenida, onde estão atualmente alojadas 239 crianças, incluindo um menino de 9 anos que chegou a pé sozinho de Honduras e um bebê de 9 meses. “Como é possível que nenhum de nós soubesse sobre a presença de 293 crianças justamente aqui no coração da nossa cidade? Como é possível que o governo federal tenha escondido toda a informação aos nova-iorquinos, tentando nos impedir de oferecer às crianças a ajuda de que elas precisam? Sejam honestos: diga-nos quem elas são, de onde vêm e do que precisam. O que está acontecendo aqui?” trovejou o primeiro cidadão da Big Apple. O que é certo, é que na noite entre terça e quarta-feira, chegaram aqui cinco meninas da Guatemala: foi revelado por um vídeo filmado pela TV local New York1 à meia-noite e quarenta e cinco. Sua acompanhante, uma mulher que falava espanhol, enfaticamente negou que as meninas tivessem sido separadas de seus pais. Mas, informa o New York Post, ela foi desmentida na manhã seguinte pelo governador Andrew Cuomo: “as meninas fazem parte dos 2300 separados dos pais”.
A denúncia das companhias aéreas
A denunciar o deslocamento das crianças do Texas para o resto dos Estados Unidos são, inclusive, as próprias companhias aéreas. A American Airlines e a United pediram ontem ao governo federal que parasse de usar seus voos para transportar as crianças. Os comissários de bordo disseram que vêm trabalhando em um estado de forte estresse, assistindo ao desespero de crianças carregadas à força nas aeronaves.