Deus geralmente trabalha mais aos domingos, não só por causa das missas e cultos. Porque domingo é dia de futebol e de pênaltis por toda parte.
Deus precisa estar atento para decidir quem irá acertar o pênalti e que goleiro irá defender o pênalti. É uma das mais cansativas tarefas das missões divinas.
E agora tem mais essa. Esse Deus ocupado é chamado para salvar Michelle, depois dos pênaltis jogados fora pelos golpistas antes e durante o 8 de janeiro.
Esses dias, Michelle escreveu nas redes sociais, depois de ser citada na delação de Mauro Cid como incentivadora do golpe:
“Você vem a mim com uma espada, uma lança e um dardo, mas eu vou enfrentá-lo em nome do Senhor dos Exércitos, o Deus dos Exércitos de Israel, que você desafiou”.
É a hora de fazer referências a Israel, Davi, Golias. Não há nenhuma linha sobre o massacre de crianças palestinas no tuíte de Michelle. Mas há uma advertência: Deus está de plantão e ao meu lado.
Acredite quem quiser que o senhor dos exércitos está mesmo com Michelle, assim como o Deus futebolista está nos fins de semana com os seus fiéis jogadores na hora do pênalti.
No caso do futebol, o que prevalece e merece respeito é a crença de quem acredita nos efeitos milagrosos da fé. São na maioria atletas que vieram até aqui depois de muita luta.
É no contexto dessas batalhas pessoais que devem ser compreendidos seus agradecimentos com as mãos erguidas aos céus: “Obrigado, senhor”.
Mas a família Bolsonaro já errou pênaltis demais, e Deus não garante proteção incondicional a quem falha muito.
Errar pode ser sinal de falta de fé ou sintoma de dúvida crônica. Jó, o vacilante diante de Deus, sabe o que isso significa, e Michelle conhece Jó.
O golpismo errou todos os pênaltis que bateu. Não com o exército do senhor, mas com o Exército dos militares citados no relatório da CPI do Golpe. Com a turma que Mauro Cid conhece bem.
Mesmo assim, com tanto fracasso, um terço da população acredita em tudo que os Bolsonaros dizem. Esse um terço acredita que existiram as tribos de Israel e publica nas redes sociais mapas com os domínios territoriais das tribos.
Tratam como realidade uma lenda bíblica. Gente ignorante? Não, o mapa das tribos é compartilhado na internet por gente inteligente, bem informada e com bom arsenal argumentatório.
Então, se gente bacana usa a Bíblia para dizer que onde há Israel sempre foi terra dos judeus, fica fácil acreditar que Deus irá salvar Michelle e toda a família Bolsonaro.
A extrema direita agarra-se à religiosidade crédula que os Bolsonaro sabem manejar. Michelle gosta da lacração dessa outra frase bíblica:
“A justiça do homem pode não acontecer, mas a justiça de Deus é certa”.
No momento, a justiça dos homens depende muito de Alexandre de Moraes, e a justiça de Deus está cada vez mais na dependência do humor do diabo, que decidiu morar no Brasil.
Originalmente publicado no blog do Moisés.
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