Dia 19 de julho de 2005. Olívio Dutra deixa o Ministério das Cidades, porque Lula precisava entregar a pasta e sua fartura de dinheiro ao PP.
Por sugestão do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (quem não se lembra dele?), o escolhido é o engenheiro Márcio Fortes, então secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento.
Eu estava em Brasília, como repórter de Zero Hora, para cobrir a CPI do Mensalão. Na manhã daquele 19 de julho, uma terça-feira, há 18 anos, fui à Esplanada dos Ministérios.
Estava na antessala de Olívio, para tentar entrevistá-lo sobre os boatos de que poderia sair, quando avisaram que não haveria entrevista.
O Ministério das Cidades já havia sido entregue à direita, na tentativa de Lula de se fortalecer no Congresso e escapar do cerco provocado pelos alaridos do mensalão.
Os jornalistas Klecio Santos, Carolina Bahia e eu, todos da RBS, ainda permanecemos por um tempo, na esperança de ver Olívio. Mas era fato consumado. O gaúcho estava naquele momento no gabinete de Lula para as despedidas.
Quase duas décadas depois, com o governo se afirmando em todas as frentes e obtendo resultados até surpreendentes na economia, Lula mais uma vez se vê forçado a ceder espaços ao centrão, para que tenha uma base mínima no Congresso.
As sequelas daquelas trocas ficaram por muito tempo, mesmo que Lula tenha escapado da ameaça de impeachment, que 11 anos depois pegaria Dilma.
Lula sabe, depois de tantos anos e pela sabedoria que tem, quais são os limites das concessões que deve fazer hoje.
Lula sabe mais do que ninguém que o que foi feito lá em 2005 não pode se repetir nunca mais.
Originalmente publicado em Blog do Moisés Mendes
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