PUBLICADO NO TIJOLAÇO
POR FERNANDO BRITO
Há muita coisa no caminho de Regina Duarte se escolher aceitar o convite de Jair Bolsonaro.
E as mais sérias não são perder o salário da Globo – e aos 72 anos e em ocaso, depois never more – e receber os estigmas dos quais ela já mostrou não se preservar.
O problema será o que fazer com os “bolsoboys e bolsogirls” que Roberto Alvim, com carta branca de Jair Bolsonaro, instalou em mais de um dezena dos braços operacionais da Secretaria de Cultura.
É uma turma que será defendida pela matilha com unhas e dentes – ou garras e presas, para expressar melhor – e que considera cada posto uma colina conquistada em sua guerra fundamentalista, cristão ou evangélica – na qual devem manter fincada a bandeira de sua Cruzada, de sua guerra “santa”.
Não será fácil mudar cada peça – que dirá todas -, ainda mais porque o chefe demitiu Alvim não por uma gestão fundamentalista e abertamente reacionária no setor cultural do Governo, mas apenas por lhe ter criado um dissabor com Israel e as entidades da colônia israelita que, aliás, “flexibilizou” seus conceitos de intolerância ao racismo quando se tratou de gargalhar como os “quilombolas de sete arrobas”.
E se tirar será difícil, também nada fácil será colocar novos dirigentes, porque a exposição das pessoas no meio cultural vai exigir que se pesquise muito para achar quem não tenha falado ou mesmo “tuitado” qualquer crítica a Bolsonaro, passaporte certo para ser incinerado na fogueira das redes sociais.
Regina Duarte, portanto, está diante de um situação de neoViúva Porcina, ou pior, porque sem rompantes e sem a paixão incontida do atual Sinhozinho Malta.
Rejeitar a convocação de Bolsonaro reduz sua patente na extrema-direita.
Aceitar é para ser decorativa e ver-se em maus lençóis quando os subordinados que não se subordinam aprontarem situações chocantes. É voltar aos tempos de quando era garota-propaganda dos “Refrigeradores Frigidaire”, nos quais só emprestava a sua condição de mocinha bonita, mas não fazia o roteiro nem a direção.
Duarte é mais um dos casos em que o ator, afinal, é capturado pelo personagem.